Endometriose, a chamada doença da mulher
moderna, atinge principalmente as com mais de 30 anos, que ainda não
têm filhos e é uma das principais causas da infertilidade feminina. O
Ministério da Saúde estima que 6 milhões de brasileiras tenham a doença e
a demora da descoberta pelos médicos, que ainda consideram normal
sentir cólicas muito fortes na menstruação, pode ainda atrapalhar o
tratamento. No entanto, com acompanhamento e medicação especializados, a
doença pode ser curada.
Cólicas fortes e incapacitantes,
desconforto intestinal e dor durante a relação sexual são os principais
sintomas de quem pode estar com endometriose. Todos os meses, por
influência dos hormônios do ciclo menstrual, o endométrio (a camada
interna do útero) fica mais vascularizado e aumenta de tamanho para
esperar uma possível gravidez. Se ela não acontece, o endométrio descama
e é eliminado em forma de menstruação. A enfermidade acontece quando
algumas células do endométrio, em vez de serem eliminadas, sobem pelas
trompas e se alojam em órgãos da cavidade abdominal.
Com o tempo, os locais onde as células
“grudaram” se inflamam e viram nódulos, que causam dor. Em geral, eles
aderem aos ovários, mas podem atingir também o útero por fora, as
trompas, o intestino, a bexiga e, em casos graves, os rins e até o
pulmão. A doença interfere na fertilidade porque pode impedir a
mobilidade das trompas, responsáveis pelo transporte do óvulo ao útero.
Se não for tratada, a mulher pode perder os ovários, as trompas, o útero
e partes da bexiga e do intestino. Se chegar ao pulmão e aos rins, o
risco de morte é enorme.
“Há fatores que podem ser considerados
causas do problema como a genética e mulheres que já tenham realizado
algum procedimento no útero, mas não há relação certa, ainda é um enigma
para a medicina. Alguns estudos apontam a gravidez tardia, mas também
não é um fator determinante até porque ocorre em mulheres mais novas
também”, disse o professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis
(FMP/Fase), Cláudio Sergio Batista.
Segundo ele, o diagnóstico demorado pode
acontecer também porque é difícil de ser feito. Os sintomas se
confundem com os da menstruação e só é possível na maioria das vezes
após o exame de laparoscopia, uma biopsia.
“A diferença é porque a cólica é mais
forte e incapacitante, mas também progressiva. O tratamento pode ser
desde sintomático, para aliviar a dor, a tratamentos hormonais e com
medicações que cessam a menstruação. A cirurgia, na maioria dos casos,
só é indicada quando o problema já está em uma fase muito avançada,
levando em conta a vontade da mulher de engravidar ainda ou não”, disse o
professor.
Segundo ele, quando a mulher está com
endometriose, consequentemente neste período está infértil, a gravidez
só é possível após tratamento. A cirurgia, normalmente, só é indicada
para mulheres que já tenham filhos.
Estudos mostram que uma das principais
causas da endometriose é que, hoje, as mulheres engravidam mais tarde e
têm menos filhos, portanto, menstruam mais. Assim, há mais endométrio
preenchendo a cavidade abdominal. Estudos recentes apontam para
alterações no sistema imunológico, o que também explica a maior
incidência em relação a duas gerações atrás. Mas essa teoria ainda não
foi confirmada.
Doença tem relação com o estresse ABRIR NOVO TÍTULO
O estresse também é um elemento
importante no desenvolvimento da doença, já que promove picos de
adrenalina, substância associada à liberação de estrógeno, hormônio
feminino que alimenta as células do endométrio fazendo com que cresçam
mais rapidamente. Por tudo isso, é uma doença bem mais comum em cidades
grandes.
“Descobri aos 27 anos que estava com
endometriose quando resolvi tentar engravidar. Sempre tive muitas
cólicas, mas os médicos diziam ser normal. Na verdade, quando me toquei
que o que eu sentia podia ser endometriose foi numa reportagem de
televisão e os sintomas eram exatamente os mesmos. Quando fui ao médico
novamente o perguntei sobre a endometriose e só então que ele resolveu
investigar e descobriu que era exatamente a doença”, contou a advogada
Aline Kimel, que tem hoje 32 anos.
Segundo ela, quando estava tentando
engravidar, as dores eram tão fortes que chegava a parar na urgência e
só cessavam após tomar remédios fortíssimos para dor. “Os médicos ainda
chegaram a zombar, literalmente, do que eu estava sentindo. Ficavam
falando gracinha, de que eu era mole demais e não aguentava sentir
cólicas”, contou.
Para engravidar também foi difícil,
chegou a sofrer um aborto espontâneo. Depois que conseguiu ter sua
filha, hoje com 4 anos, achou que estava curada, no entanto, há dois
anos descobriu que tinha voltado.
“Hoje faço tratamento com medicação, mas
o custo desse cuidado é muito caro, o remédio que preciso utilizar
chega a custar R$ 200,00 em uma caixa que só dá para 28 dias. No
entanto, pelo menos parece surtir efeito. As dores não sinto mais, mas
os sangramentos são constantes”, contou.
A relações-públicas Thiara Mangi Cardone
chegava a desmaiar de dor todo mês quando ficava menstruada e precisava
ser levada para a emergência do hospital. Ela conta que levou três anos
para descobrir o problema.
“A dor era tão insuportável que ia parar
no hospital. Descobri numa das crises, pois o meu problema não foi
identificado em exames comuns, então meu médico me pediu uma
ressonância. Só assim consegui detectar a endometriose. O meu tratamento
é o Allurene, um remédio que parece um anticoncepcional, mas que na
verdade te coloca na menopausa. Eu não menstruo mais e vou ficar dois
anos assim, falta um para o tratamento acabar e somente após esse tempo
vou poder saber se sumiu”, disse Thiara, lembrando ainda que a doença
pode voltar no dia seguinte ou nunca mais.
O drama dessas mulheres acontece ainda
pelo despreparo e desconhecimento do quadro entre os médicos que não
identificam o problema logo no início. Quando é reconhecido
precocemente, as chances de tratamento são bem maiores. Uma pesquisa
feita no ano passado pela SBE (Sociedade Brasileira de Endometriose)
mostrou que 53% delas nunca ouviram falar na doença.
Fonte: Tribuna de Petrópolis