segunda-feira, novembro 24, 2014

Mais de 6 milhões de brasileiras sofrem de endometriose

Endometriose, a chamada doença da mulher moderna, atinge principalmente as com mais de 30 anos, que ainda não têm filhos e é uma das principais causas da infertilidade feminina. O Ministério da Saúde estima que 6 milhões de brasileiras tenham a doença e a demora da descoberta pelos médicos, que ainda consideram normal sentir cólicas muito fortes na menstruação, pode ainda atrapalhar o tratamento. No entanto, com acompanhamento e medicação especializados, a doença pode ser curada.
Cólicas fortes e incapacitantes, desconforto intestinal e dor durante a relação sexual são os principais sintomas de quem pode estar com endometriose. Todos os meses, por influência dos hormônios do ciclo menstrual, o endométrio (a camada interna do útero) fica mais vascularizado e aumenta de tamanho para esperar uma possível gravidez. Se ela não acontece, o endométrio descama e é eliminado em forma de menstruação. A enfermidade acontece quando algumas células do endométrio, em vez de serem eliminadas, sobem pelas trompas e se alojam em órgãos da cavidade abdominal. 
Com o tempo, os locais onde as células “grudaram” se inflamam e viram nódulos, que causam dor. Em geral, eles aderem aos ovários, mas podem atingir também o útero por fora, as trompas, o intestino, a bexiga e, em casos graves, os rins e até o pulmão. A doença interfere na fertilidade porque pode impedir a mobilidade das trompas, responsáveis pelo transporte do óvulo ao útero. Se não for tratada, a mulher pode perder os ovários, as trompas, o útero e partes da bexiga e do intestino. Se chegar ao pulmão e aos rins, o risco de morte é enorme.
“Há fatores que podem ser considerados causas do problema como a genética e mulheres que já tenham realizado algum procedimento no útero, mas não há relação certa, ainda é um enigma para a medicina. Alguns estudos apontam a gravidez tardia, mas também não é um fator determinante até porque ocorre em mulheres mais novas também”, disse o professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase), Cláudio Sergio Batista.
Segundo ele, o diagnóstico demorado pode acontecer também porque é difícil de ser feito. Os sintomas se confundem com os da menstruação e só é possível na maioria das vezes após o exame de laparoscopia, uma biopsia. 
“A diferença é porque a cólica é mais forte e incapacitante, mas também progressiva. O tratamento pode ser desde sintomático, para aliviar a dor, a tratamentos hormonais e com medicações que cessam a menstruação. A cirurgia, na maioria dos casos, só é indicada quando o problema já está em uma fase muito avançada, levando em conta a vontade da mulher de engravidar ainda ou não”, disse o professor.
Segundo ele, quando a mulher está com endometriose, consequentemente neste período está infértil, a gravidez só é possível após tratamento. A cirurgia, normalmente, só é indicada para mulheres que já tenham filhos.
Estudos mostram que uma das principais causas da endometriose é que, hoje, as mulheres engravidam mais tarde e têm menos filhos, portanto, menstruam mais. Assim, há mais endométrio preenchendo a cavidade abdominal. Estudos recentes apontam para alterações no sistema imunológico, o que também explica a maior incidência em relação a duas gerações atrás. Mas essa teoria ainda não foi confirmada.

Doença tem relação com o estresse ABRIR NOVO TÍTULO

O estresse também é um elemento importante no desenvolvimento da doença, já que promove picos de adrenalina, substância associada à liberação de estrógeno, hormônio feminino que alimenta as células do endométrio fazendo com que cresçam mais rapidamente. Por tudo isso, é uma doença bem mais comum em cidades grandes.
“Descobri aos 27 anos que estava com endometriose quando resolvi tentar engravidar. Sempre tive muitas cólicas, mas os médicos diziam ser normal. Na verdade, quando me toquei que o que eu sentia podia ser endometriose foi numa reportagem de televisão e os sintomas eram exatamente os mesmos. Quando fui ao médico novamente o perguntei sobre a endometriose e só então que ele resolveu investigar e descobriu que era exatamente a doença”, contou a advogada Aline Kimel, que tem hoje 32 anos.
Segundo ela, quando estava tentando engravidar, as dores eram tão fortes que chegava a parar na urgência e só cessavam após tomar remédios fortíssimos para dor. “Os médicos ainda chegaram a zombar, literalmente, do que eu estava sentindo. Ficavam falando gracinha, de que eu era mole demais e não aguentava sentir cólicas”, contou.
Para engravidar também foi difícil, chegou a sofrer um aborto espontâneo. Depois que conseguiu ter sua filha, hoje com 4 anos, achou que estava curada, no entanto, há dois anos descobriu que tinha voltado.
“Hoje faço tratamento com medicação, mas o custo desse cuidado é muito caro, o remédio que preciso utilizar chega a custar R$ 200,00 em uma caixa que só dá para 28 dias. No entanto, pelo menos parece surtir efeito. As dores não sinto mais, mas os sangramentos são constantes”, contou.
A relações-públicas Thiara Mangi Cardone chegava a desmaiar de dor todo mês quando ficava menstruada e precisava ser levada para a emergência do hospital. Ela conta que levou três anos para descobrir o problema.
“A dor era tão insuportável que ia parar no hospital. Descobri numa das crises, pois o meu problema não foi identificado em exames comuns, então meu médico me pediu uma ressonância. Só assim consegui detectar a endometriose. O meu tratamento é o Allurene, um remédio que parece um anticoncepcional, mas que na verdade te coloca na menopausa. Eu não menstruo mais e vou ficar dois anos assim, falta um para o tratamento acabar e somente após esse tempo vou poder saber se sumiu”, disse Thiara, lembrando ainda que a doença pode voltar no dia seguinte ou nunca mais.
O drama dessas mulheres acontece ainda pelo despreparo e desconhecimento do quadro entre os médicos que não identificam o problema logo no início. Quando é reconhecido precocemente, as chances de tratamento são bem maiores. Uma pesquisa feita no ano passado pela SBE (Sociedade Brasileira de Endometriose) mostrou que 53% delas nunca ouviram falar na doença.
Fonte: Tribuna de Petrópolis

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