terça-feira, novembro 19, 2013

Lenda sobre maldição persiste na BR-040

Um dos trechos com maior número de acidentes da rodovia federal BR-040 é o que compreende os km-91 e 92 da pista de descida, da "Estrada do Contorno", que teve a construção iniciada em 1957 e foi concluída na metade da década de 60. Quase toda vez que chove, motoristas perdem o controle da direção, colidem contra a mureta de proteção ou mesmo capotam. O trecho já registrou algumas mortes, ao longo das cinco décadas de existência. Mas, na crença popular, os acidentes no local podem ter outras razões, que vão além de fatores como a pista escorregadia, a inclinação do pavimento e até mesmo a imprudência de muitos condutores. O motivo seria uma tragédia que vitimou sete trabalhadores durante a construção do trecho e que teria provocado uma maldição, a "Maldição do Mata Sete".
Na década de 50, durante o governo de Jucelino Kubitschek, a rodovia federal, que liga Brasília ao Rio de Janeiro, passou por uma série de obras para ser modernizada, uma dessas obras foi a construção da Estrada do Contorno (oficialmente chamada de Rodovia Whashington Luiz, em homenagem ao presidente da república da década de 20, famoso pela construção de rodovias). O trecho de 28 quilômetros, desde então, a nova descida da serra, liga o km-89 da antiga rodovia até o km-117 (onde hoje funciona a praça de pedágio de Xerém).
A construção foi iniciada no final do ano de 1957, pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER, e sua conclusão aconteceu em meados do ano de 1964. Justamente no último ano da obra, uma tragédia aconteceu, na construção do Viaduto do Grotão, entre os quilômetros 91 e 92. Sete trabalhadores morreram esmagados por uma pedra, que se desprendeu de uma encosta. 
Adevair da Silva, morador da região ao longo de seus 53 anos, afirma que o pai foi um dos operários que ajudou a construir a rodovia e que constantemente relatava o fato. "Ele sempre dizia que foi um acidente terrível, que o marcou muito. Uma pedra enorme desceu e atingiu os trabalhadores e um trator, que foram jogados na encosta do viaduto", afirma. 
Os trabalhadores teriam sido sepultados no cemitério da capela de Nossa Senhora das Dores, do pequeno bairro Quarteirão Worms, às margens do trecho do acidente, dando início a uma série de lendas, associando os acidentes à maldição causada pela morte dos trabalhadores. Para alguns moradores da região, o lugar teria sido amaldiçoado por causa do incidente de 64. "Todo mundo passou a chamar o trecho de Mata Sete e a acreditar que existe uma ligação do grande número de acidentes com a tragédia de 64", explica Adevair.
Se causados pela maldição, ou não,o fato é que os acidentes passaram a ser rotina das cerca de 50 famílias, que residem no Quarteirão Worms mesmo antes da construção da rodovia. O bairro, data do período anterior à república (constituída em 1889) é um dos últimos bairros antes da divisa com o município de Duque de Caxias e que consta na planta original do major Júlio Frederico Koler, o engenheiro que projetou a cidade de Petrópolis, à pedido do Imperador Dom Pedro II. Anderson Rodrigues Vieira, de 30 anos, que há 24 anos reside no Quarteirão Worms, afirma que cuidar de feridos de acidentes e ajudar a sinalizar a rodovia é rotina quase que diária para os moradores. "Quase todo dia um carro bate ali. Cansamos de receber pessoas ensanguentadas em casa e de ajudar a sinalizar acidentes para evitar novas colisões, engavetamentos", informa.
Os números comprovam a afirmação do morador. Um levantamento feito pela Polícia Rodoviária Federal - PRF, em relação ao primeiro semestre de 2011, contabilizou 516 acidentes nas duas pistas do trecho da serra da rodovia federal. A maior parte, 117 casos, nos trechos entre os km- 90 e 100 da pista de descida. Sendo 22 deles apenas no km-92, que no período só ficou atrás do km-84 da mesma pista (com 24 acidentes).
Em consequência do alto índice de acidentes no trecho, no ano passado, a PRF apontou o trecho como um dos locais onde a Concer, concessionária que administra a rodovia federal desde 1996, deveria instalar os radares e câmeras exigidos pela Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT. O radar e a câmera estão lá e deveriam estar em operação desde de janeiro, mas apenas o segundo em operação.

Para Anderson, o equipamento será importante para reduzir o número de acidentes e desmitificar a maldição do Mata Sete. "Quem dirige aqui diariamente sabe como a rodovia engana. Muitos motoristas tem a falsa sensação de que as curvas mais fechadas terminam após o Belvedere e aproveitam o trecho menos inclinado para acelerar mais. Engano cometido por quem não conhece bem a rodovia, especialmente pelos que possuem carros mais modernos, que oferecem mais estabilidade. No trecho que deveria ser feito a 60 km/h, muitos passam acima dos 80km/h. Se o radar já estivesse em operação, apelando para o bolso dos motoristas, onde 'dói' mais, muitos acidentes seriam evitados", garante.
Fonte:Tribuna de Petrópolis 

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