quarta-feira, dezembro 01, 2010

Antibióticos, agora, só tendo receita médica

Desde domingo, está em vigor a nova resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que proíbe a venda de antibióticos sem a apresentação da prescrição médica. Além da exigência, a receita deve ter duas vias, e uma delas ficará retida na farmácia ou drogaria. Para o pediatra e infectologista Paulo César Guimarães, a determinação tem como finalidade impedir o uso descontrolado do medicamento, que pode levar a efeitos colaterais e à infecção por bactérias mais agressivas.
“Infelizmente, as pessoas estão acostumadas com a automedicação. Nem todas as inflamações ou infecções são causadas por bactérias, então não adianta ingerir antibióticos. Além da medicação não fazer efeito, ainda vai prejudicar a saúde do paciente”, informou.
Existem nove classes de antibióticos e mais de sete mil tipos, entre similares, genéricos e de marca, mas a regra vale para 93 tipos de substâncias que compõem todos os antibióticos registrados no Brasil, como amoxicilina, azitromicina, cefalexina e sulfametoxazol, algumas das mais vendidas no país. Estão de fora da lista os usados exclusivamente em hospitais. Com a venda mais rígida, a Anvisa quer evitar o uso indiscriminado de antibiótico pela população e conter o avanço dos casos de contaminação por superbactérias, como a KPC, bactéria que causou surto de infecção hospitalar em diversos estados brasileiros. “O uso de antibióticos modifica a flora bacteriana e a sua recuperação total demora cerca de dois anos. Essa flora é responsável pela defesa do organismo e se não estiver completamente refeita o risco de contrair uma bactéria mais forte é grande”, comentou Paulo César Guimarães.
A nova determinação pegou alguns consumidores de surpresa. Elisabete Rosa Brand foi uma delas. Munida apenas da caixa de um medicamento, ela foi a três farmácias na manhã de ontem e não conseguiu efetuar a compra. “O remédio é para o meu marido. Ele sofre constantemente com infecções urinárias e toma este antibiótico há 15 anos. Sempre que está em crise é só ele que resolve. Não sei o que fazer. Vou ter que procurar um médico urgente”, comentou. Segundo a farmacêutica Elisangela Magrani, muitas pessoas desconhecem a resolução. “Apesar da divulgação da Anvisa, a determinação pegou muitos consumidores de surpresa, mas o maior problema é que algumas pessoas não entendem e acham que você não quer vender o remédio. Tentamos explicar que é medida é válida e para o bem do próprio paciente, mas mesmo assim eles não entendem”, comentou. Para o farmacêutico Marlon Brand, é preciso agora facilitar o acesso da população aos médicos. “Sabemos das dificuldades para marcar uma consulta, o que leva muitos pacientes à automedicação. Concordamos com a determinação da Anvisa, mas é preciso olhar o outro lado também”, alertou.
A resolução foi publicada pela Anvisa em outubro e as farmácias e drogarias têm até 30 dias para se adaptar. A prescrição médica para os antibióticos terá validade de dez dias e deverá estar em letra legível e sem rasuras. Além disso, precisa informar o nome do medicamento ou da substância prescrita sob a forma de Denominação Comum Brasileira (DCB), dosagem ou concentração, forma farmacêutica, quantidade e posologia; nome completo do paciente; nome do médico, registro profissional, endereço completo, telefone, assinatura e carimbo; identificação de quem comprou o remédio, com nome, RG, endereço e telefone; e data de emissão. Também no verso da receita, a farmácia deve anotar a data, quantidade e número do lote do remédio.
Apesar da resolução já estar em vigor, os medicamentos ainda não constam no cadastro de controlados da Anvisa. De acordo com o farmacêutico Marlon Brand, os remédios só farão parte do sistema em abril, até lá, apenas a receita ficará retida. “Cada medicamento controlado que é vendido deve ser lançado neste sistema. É um controle obrigatório da Anvisa e dos estabelecimentos”, informou. A resolução também prevê mudanças nas embalagens. No rótulo dos medicamentos contendo substâncias antimicrobianas deve constar, obrigatoriamente, na tarja vermelha, em destaque, a expressão: “Venda sob prescrição médica – Só pode ser vendido com retenção da receita”. A mesma frase deve constar em destaque na bula. Os fabricantes terão o prazo máximo de 180 dias para adequação quanto à embalagem, rotulagem e bula.
Fonte: Tribuna de Petrópolis

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