quinta-feira, setembro 15, 2005

Tão reclamando de barriga cheia

Ser gordo me ajuda muito a entender os problemas do país. Por exemplo: eu entendo o que o Severinho deve estar passando. Sei muito bem o que uma pessoa sente quando é acusada sem provas. Exemplo: elevador lotado. Alguém peida. Quem leva a culpa? Eu, o gordo. Fica todo mundo no elevador com aquela cara de quem comeu e não peidou. E olhando pra mim com ar de reprovação. Ninguém apresenta fatos que comprovem os flatos. Cadê o depoimento do seu Manel do botequim, provando que no dia do ataque com gases tóxicos no elevador eu tinha exterminado três ovos rosa? Cadê, hein? E os exemplos não param por aí. Quando a cadeira quebra, foi o gordo. Quando deixam um torpedeiro boiando na privada, foi o gordo. Quando acham resto de salgadinho no tapete, foi o gordo. O gordo é uma espécie de Dilúvio Soares do mundo: a culpa de tudo que acontece é sempre dele e de mais ninguém.
Por ser gordo também entendo a política econômica do governo. Até porque eu sou que nem dívida: tô sempre engordando. Se você pensar bem, peso é que nem juros: sobe muito rápido e demora um século pra descer. Outra coisa que eu descobri é que, assim como a economia, o gordo também tem problema de balança comercial. Sério! Sempre que um gordo se pesa na rua, diz que a porcaria da balança está estragada. Boa é a balança de casa, que está dando dois quilos a menos. Na verdade, a política econômica é uma coisa muito simples de entender: para não ter problemas na balança comercial, basta que a importação seja menor que a exportação. Indo no popular: o que você bota pra dentro tem que ser menor do que o que você manda pra fora, entende? Como o Palocci, eu também estabeleci o meu superávit primário quando comecei regime. Tinha que perder 10 quilos em 2005, nem que para isso eu tivesse que cortar mais um pouquinho daqui e dali.
A obesidade também me ajuda a entender um pouco mais o que acontece nas CPIs. Parece gordo explicando pra mulher que não tem problema nenhum sair do regime de vez em quando: "Pô, amor, bem que podia rolar uma pizza hoje à noite, hein? Só umazinha, não agüento mais esse regime…".

Nenhum comentário: