segunda-feira, janeiro 24, 2011

Petrópolis se articula para ter os turistas de volta


Os turistas sumiram. Hoteleiros, donos de restaurantes e lojistas de Petrópolis, na região serrana do Rio, estão se organizando para tentar recuperar os prejuízos causados pelas chuvas que levaram destruição e morte ao Vale do Cuiabá, a área do município mais afetada pela tragédia do dia 12. Empresários articulam ações para mostrar que os desabamentos foram localizados nessa área e que outras regiões do município, como Araras, Correias, Nogueira e Secretário, além do próprio centro histórico de Petrópolis, nada sofreram. Segundo a Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil, até ontem tinham morrido 808 pessoas na região por causa das chuvas.

No Vale do Cuiabá havia cinco pousadas, das quais uma foi arrasada. Mas mesmo as distantes dali, sofreram cancelamentos de 90% nas reservas. Em janeiro, a ocupação deve ficar abaixo de 20%, enquanto a taxa histórica média para o mês é de cerca de 70%. Para fevereiro e início de março, incluindo o Carnaval, houve muitos cancelamentos. Levantamento feito com 25 hotéis e pousadas de Petrópolis projetou perda de receita de R$ 1,6 milhão nesses três meses.
O comércio do centro de Petrópolis, como a consagrada Rua Teresa, onde trabalham cerca de 6 mil pessoas e há mais de mil lojas e confecções de malha, está convivendo com queda de 70% nas vendas, disse Carla Gonçalves, gerente-administrativa da associação que reúne os empresários da área.
As próprias autoridades pediram à população que evitasse as áreas de risco e solicitaram que não se deslocassem para a serra fluminense. É natural o turista ter medo de viajar para região sem saber o que vai encontrar, em especial no verão, quando chove forte. Mas mesmo no centro de Itaipava, distrito de Petrópolis, o ritmo do comércio é normal, apesar da consternação geral com o elevado número de mortes na região.

Para definir ações, na quinta e sexta-feiras, empresários do setor, reuniram-se em Petrópolis, a chamada cidade imperial. D. Pedro I comprou as primeiras terras na região na década de 1820. A região também foi muito frequentada por D. Pedro II e a família real. Vanda de Oliveira, dona da pousada Paraíso, em Pedro do Rio, distrito de Petrópolis, disse que foi criado um comitê anticrise. A ideia é contratar agência especializada para reconquistar os turistas e informar sobre as áreas não afetadas. "Temos que ser otimistas, mas agir rapidamente, porque a hotelaria não tem fôlego para esperar por uma recuperação só depois do Carnaval", disse Vanda.

Rogério Elmor, vice-presidente do Petrópolis Convention Bureau, entidade que reúne diferentes setores ligados ao turismo, disse que será pedido ao governo (nas três esferas) carência e isenção de impostos por três meses. A ideia é adiar o pagamento de tributos como ISS e IPTU até março e pagar apenas os impostos dos nove meses restantes. O IPVA já foi adiado para as cidades afetadas.

"Em contrapartida, nos comprometemos a não demitir", disse Elmor. A pousada do empresário, a Bomtempo Resort, em Itaipava, tem 34 alojamentos para hóspedes, mas na sexta não havia nenhum. "Em janeiro houve 100% de cancelamentos e para o Carnaval, 50%", afirmou. Segundo ele, o comitê anticrise vai definir uma agenda positiva, a partir do Carnaval, com a realização de eventos e shows para atrair turistas e a definição do "turismo solidário", pelo qual o cliente de um hotel, pousada ou restaurante teria direito a um desconto de 40%. O consumidor ficaria com metade desse desconto, repassando a outra parcela para a criação de uma escola de qualificação de mão de obra para o turismo no Vale do Cuaibá.

Essas e outras ações deverão ser detalhadas hoje em entrevista à imprensa do prefeito de Petrópolis, Paulo Mustrangi, empresário do setor. Há outras propostas. Bruno Wanderley, que assume em março a presidência do Petrópolis Convention Bureau, disse que foi levado ao Ministério do Turismo, via TurisRio, a secretaria estadual, projeto para recuperar a imagem turística da região serrana.

A proposta é que sejam destinados R$ 4 milhões, com verba do ministério, para aplicação em material promocional e mídia televisiva, entre outras ações. Wanderley disse que a proposta partiu de Petrópolis, mas poderá ser estendida aos outros dois municípios serranos atingidos pelas chuvas, Teresópolis e Nova Friburgo.

O secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Costa, percorreu a serra na sexta. A assessoria do ministério informou que ele dará prioridade à análise do projeto assim que o receber. Esta semana deve ser realizada reunião, em Brasília, para definir plano de ação. Marcos Pereira, secretário estadual de Turismo em exercício, confirmou que está sendo montado um plano de emergência. "Em Friburgo, isto é impossível", lamentou. "Em Petrópolis temos 91% da capacidade hoteleira e gastronômica operando normalmente. Em Teresópolis, o percentual é de 85%", disse. "As rodovias estão desobstruídas, só há algumas obras de contenção."

No Le Canton, hotel na rodovia Teresópolis-Friburgo, a ocupação caiu de 95% para 25%. Ele fica em Vargem Grande, Teresópolis, área não afetada pela chuvas.
Fonte: Valor

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