quinta-feira, abril 06, 2006

Adeus ao bom menino










Carequinha, o palhaço de três gerações, morre em sua casa, em São Gonçalo, aos 90 anos

O palhaço de muitas gerações deixou de vez o picadeiro. De nome pomposo, George Savalla Gomes escreveu um outro na história do circo e dos programas infantis de televisão: Carequinha. Pioneiro, comandou uma atração por 16 anos na TV Tupi, desde que a emissora foi inaugurada no Rio de Janeiro, em 1951, e foi o primeiro artista circense a fazer sucesso na televisão e a criar um formato de programa de auditório para crianças que até hoje faz sucesso. Um exemplo é o atualmente chamado TV Xuxa. Gravou 26 discos, participou de filmes e, mais uma vez demonstrando estar à frente, colocou sua marca nos mais variados produtos infantis, o que somente veio a acontecer com outros artistas depois da primeira metade do século passado.
Carequinha morreu ontem de infarto, aos 90 anos, em sua casa, na cidade de São Gonçalo, interior do Estado do Rio de Janeiro. Ele passou mal durante a madrugada, reclamando de dores no peito e falta de ar. Apesar de medicado, não resistiu nem teve tempo de chegar ainda vivo ao Hospital das Clínicas, em frente. O enterro, por desejo da viúva, Elpídia Teixeira Gomes, e dos quatro filhos, Tyrone, Welington, Marlene e Sílvia Cristina, foi ontem mesmo, às 17 horas, no Cemitério de São Miguel. O corpo foi velado no Centro Cultural Joaquim Lavoura e seguiu em cortejo pela cidade. A Prefeitura de São Gonçalo decretou luto de três dias. Deixou ainda dois netos e um bisneto, de nome Iago, de 7 anos, e o único dos descendentes que parece gostar de ser palhaço. Já tem até nome artístico: Gabiroba, dado pelo bisavô.
A carreira de Carequinha no circo estava escrita desde seu nascimento. Os pais, Elisa Savalla e Lázaro Gomes, eram trapezistas do Circo Peruano, de seu avô, pai de sua mãe. Por coincidência ou premonição, ele nasceu no picadeiro, logo depois de uma apresentação da mãe, que sentiu as dores do parto e o trouxe à luz ali mesmo. Com 5 anos, Carequinha estreou como palhaço, já com este nome, dado por seu padrasto, Ozório Portilho, segundo marido de sua mãe e também artista circense. A seguir, vieram atuações em diversos circos brasileiros e internacionais. A amizade com Fred (Fred Villar), outro palhaço e companheiro nos programas de televisão, começou no circo alemão Sarrazani, onde os dois faziam também o papel de galãs das peças que eram encenadas.
- Carequinha se achava um predestinado e acreditava que palhaço era uma raça. Nasceu para isso e, junto com Fred, formou uma dupla adorado pela garotada - afirma o cartunista e autor infantil Ziraldo.
Ser palhaço, para Carequinha, era realmente um privilégio. Numa entrevista para a televisão, na década de 60, ele contou uma história bem peculiar sobre a profissão. Disse que uma pessoa começou a brigar com ele e o chamou de palhaço. Sua resposta foi imediata:
- Tem razão. Sou palhaço e com muito honra. E o melhor do Brasil.
O humorista Renato Aragão lembrou que também se considera um palhaço.
- Carequinha foi um artista de valor inestimável para o Brasil. Através de seu jeito simples e alegre, marcou diversas gerações de brasileirinhos por intermédio de sua mensagem de educação e cortesia. Mesmo aos 90 anos, Carequinha mantinha sua alma infantil e ingênua. Ele continuará sendo nosso eterno Bom Menino - afirmou Renato Aragão, ontem, por telefone.
O palhaço Biturinha (Augusto Gutierrez), companheiro de Carequinha em algumas jornadas em São Gonçalo, em shoppings e festas infantis, disse que os artistas circenses que residem em São Gonçalo - e são muitos, segundo explicou - farão uma homenagem para Carequinha no dia 18 de julho (dia do nascimento dele), na cidade.
- A homenagem é mais do que justa. Afinal, ele foi o pai, o mestre, o exemplo, para muitos que assumiram a profissão de palhaço. Eu mesmo decidi seguir a carreira motivado por ele.
Nos anos 80, Carequinha trabalhou na TV Manchete até ser tirado do ar para que entrasse o programa da apresentadora Xuxa, ainda em começo de carreira. Sua última aparição em televisão foi na série Hoje é dia de Maria, onde representava um palhaço. Ou ele mesmo.

Um comentário:

Marco Aurélio disse...

É muito triste perder um palhaço de verdade como o carequinha e ter que continuar a agüentar palhaços de mentira como os do congresso nacional,das assembléias estaduais e das câmaras municipais que são os circos modernos de hoje. Parabéns pelo post!

Um abraço

Marco Aurélio