segunda-feira, maio 19, 2008

Um trem para a estrela

JB hoje:

Em 30 de abril de 1854, sob os olhares de uma multidão empolgada, é inaugurada a primeira estrada de ferro do Brasil. Fruto da iniciativa pioneira de Irineu Evangelista de Souza, posteriormente conhecido como o Barão de Mauá, a pequena locomotiva, puxando apenas dois vagões, percorreu os 14,5 km entre o porto de Mauá, no fundo da Baía de Guanabara, e a localidade chamada Fragoso, em espantosos - para a época 23 minutos. Este fato colocou o país em compasso com algumas das novidades do progresso industrial, em uma terra em que o trabalho escravo ainda era a principal força motriz do capitalismo incipiente. O trecho final da estrada foi construído anos depois pela Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, a nova proprietária, usando o sistema de cremalheira Riggenbach, e locomotivas a vapor Baldwin. O projeto da ferrovia teve a autoria do engenheiro Pereira Passos, que criou sistema semelhante para o trenzinho do Corcovado, e que seria conhecido mais tarde pelas reformas que fez no Rio no governo de Rodrigues Alves, enquanto este era o prefeito da capital, que aqui ficava. Completada esta última etapa, o tempo de viagem do Rio a Petrópolis passou a ser praticamente o de hoje, e isso em 1885, há mais de 120 anos. A estrada foi incorporada pela Leopoldina, e continuou em serviço por muitos anos. A chegada da ditadura militar decretou seu fim, e, em 5 de novembro de 1964, partia o último trem de Petrópolis para o Rio. Tem se falado na reativação desta ferrovia, pois na verdade faltam somente 6km, da Raiz da Serra (Inhomirim) até o Alto, a mais de 840m de altitude. O trecho restante já existe, faz parte da rede sob concessão da Supervia, que interliga a cidade aos municípios do Grande Rio. Seriam necessários investimentos para a reconstrução da via e compra de novas composições, mas esta linha poderia se tornar uma opção de qualidade em relação ao transporte rodoviário, que domina a região. Bem administrado, um sistema ferroviário é extremante confiável, com tempos de viagem regulares, o que pode não ocorrer nas estradas, com seus inúmeros acidentes. Além disso, a subida da Serra descortina uma paisagem belíssima, e esta estrada teria uma vocação turística natural. O renascimento da linha poderia se tornar um modelo para o resgate do tanto que foi destruído do patrimônio ferroviário nacional, ao longo de décadas, além de contribuir socialmente em prol de uma melhor qualidade de vida, através de um transporte digno e moderno. A cidade imperial de Petrópolis, a Estrela da Serra, merece sem dúvida ter de volta o seu trem da Serra da Estrela.

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