quinta-feira, agosto 25, 2005

Tem culpa eu?

Nos meus tempos de letrista frustrado, empresário de banda frustrado e divulgador de banda frustrado foi que eu tive o primeiro e único contato com o Zé Dirceu. Andava cheio de CDs na bolsa quando, numa viagem para São Paulo, dei de cara com o Zé no avião, em plena campanha eleitoral do Lula. O nome do disco, como já falei em texto anterior, era Pizzaria Brasil e falava de todos os escândalos que tinham acabado em pizza no país. A música-tema, achava eu, tinha tudo a ver com a campanha do PT. Não tive dúvidas: cerquei o Zé no saguão do aeroporto e passei o CD, com a recomendação que ele escutasse a faixa 1. Não é que, dois dias depois, chegou e-mail do Zé agradecendo o CD, dizendo que tinha gostado muito e passando seus e-mails e telefones de contato? Que cara legal, pensei. (Calma, gente!!! Juro que nunca telefonei ou passei e-mail pro ilustre deputado.)
Hoje, nos meus tempos de humorista frustrado, em retribuição, sempre que posso faço uma piada com o cara. Inventei o apelido Zé Desceu, usado agora por inúmeras colunas e blogs pelo país. Já fiz o ex-ministro ser comido pela Mary Pozah, minha personagem prostituta, com quem, logicamente, broxou. Foi queimado inúmeras vezes pela Maria Joana, minha colunista doidona, ganhando inclusive duas vezes o troféu de ''maconheiro da semana'' pelas drogas que fez. Já foi ingrediente para inúmeras receitas difíceis de engolir do Nadim Nuprat, meu colunista gourmet. Foi filme. Foi enterrado vivo. Foi tipo de motel, tipo de gripe, tipo de vírus, tipo de posição sexual, tipo de cheque, tipo de pizza. Ganhou a vida como Josefa Dirceu, a escort girl. Teve até publicada a primeira edição do Dirceunário do Zé.
Confesso que ainda tenho uma certa dificuldade em aceitar que aquele cara legal da minha época de letrista frustrado possa ter virado esse monstro, corrupto, diabólico, arrogante, maquiavélico, mafioso, chantagista e ladrão dos meus tempos de humorista frustrado. Alguma coisa ainda não bate. Sinceramente, ainda espero que daqui a 20 anos, quando sair a biografia do Zé Dirceu contando tudo, a gente descubra que existia uma outra verdade. Ele até pode ser muito culpado. O que eu não entendo é como eu ainda posso ser tão inocente.

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