sexta-feira, agosto 19, 2005

Último desejo

Estavam todos distraídos no velório do Alfunonério quando uma velhinha foi ao caixão:
- Vou dar mais uma espiada no infeliz!
Tirou o pano da cara do defunto e caiu sentada no chão da capela:
- Pintaram um bigodinho nele! Mas que sacanagem!
Todo mundo correu em direção ao caixão:
- Putz, é verdade!
Um magricela:
- Vai ver o bigodinho cresceu depois que ele botou o bloco na rua!
Um baixinho:
- E bigodinho cresce em defunto, sua besta?
A velhinha:
- É claro que algum pilantra pintou... finha fenfafura! Feguem a finha fenfafura!
A dentadura tinha caído no caixão. Um mulatinho:
- Deixa que eu pego, porque trabalho no necrotério!
Pegou, devolveu à velhinha e voltou ao assunto do bigodinho:
- Como é que a gente vai descobrir quem foi o verme de pobre que pintou o bigodinho no extinto?
O magricela:
- É só a gente fazer uma chamada e saber quem tá faltando aqui na capela!
Uma gordona:
- Nem precisa fazer a chamada, porque eu vi o Oriovoneldo saindo daqui há uns 10 minutos! Acho que foi comprar cigarros!
Um primo do falecido:
- Mas é claro que não foi o Oriovoneldo! Ele é um cara sério, o mais sério da família!
O mulatinho:
- Os sérios são os piores!
Acabou de falar e chegou o Oriovoneldo:
- O que é que tá acontecendo aqui? Roubaram o defunto? Hoje em dia estão roubando tudo que encontram pela frente!
Cercaram o Oriovoneldo:
- Ninguém roubou ninguém! É que pintaram um bigodinho no Alfunonério e nós queremos saber quem foi!
Oriovoneldo era mesmo um cara sério:
- Fui eu! É que ele sempre desejou ter bigodinho, mas o dele nunca crescia! Então, ele pediu pra eu pintar um bigodinho nele, pra ele ser enterrado assim!
Um sujeito enorme:
- Então, a sua pessoa vai entrar na porrada, porque o falecido, quando vivo, sempre disse que gostaria de dar na sua cara!
E a multidão atendeu ao último desejo do extinto, mandando o Oriovoneldo para o hospital.

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