segunda-feira, agosto 08, 2005

Duro e banguela

Amantegaldo tomava seu cafezinho num bar da Central do Brasil, quando um baixinho com cara de pilantra se aproximou e comentou:
- Perdão, mas não pude deixar de notar que a sua boca está despida de dentes!
Amantegaldo teve que concordar:
- É verdade! O último sobrevivente eu tirei na semana passada! Tô na base da sopa!
O baixinho era um artista:
- Tsc, tsc, tsc. Isso é lamentável!
E mostrou o que pretendia:
- Tenho a solução para o seu problema!
Amantegaldo acendeu os olhos, cheios de esperança:
- O senhor é um desses protéticos que ficam por aí fazendo caridade?
O baixinho não gostou nem um pouco daquele negócio de caridade, mas se segurou:
- Não, meu caro amigo! Sou apenas um pequeno empresário informal e tenho dentaduras de todos os tipos e tamanhos para quebrar o seu galho! Mediante, é claro, uma insignificante quantia!
Amantegaldo ficou pasmo:
- Putzgrila! O senhor andou arrombando tumbas? Ah, dentadura de defunto eu não quero não!
Um careca, que ouvia o papo, se meteu no rolo:
- E por que não? Só não pode é comprar a dentadura de um cara que antes de botar o bloco na rua era falador, porque se fizer isso vai pegar essa mania desgraçada e falar mal de todo mundo!
O baixinho interrompeu o careca:
- Mas as dentaduras que eu vendo foram fabricadas por mim! Não tem nada de defunto nessa transa!
E se voltou para o Amantegaldo:
- Já pensou o senhor chegando em casa e rindo com a boca cheia de dentes pra sua patroa, cheio de amor pra dar?
Amantegaldo se entusiasmou e capitulou:
- Mas deve custar caro pra dedéu!
O baixinho, célere:
- Nada! Quanto tem aí no bolso? É só me dar a mixaria, que eu vou em casa aqui pertinho e trago umas três, certo de que uma delas vai se encaixar que é uma beleza na sua boca!
Amantegaldo deu os R$ 20 que tinha e ficou esperando o baixinho voltar com as dentaduras. Isso foi na semana passada e ele continua esperando até hoje.

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