sábado, julho 23, 2005

Próstata

A próstata, para nós homens, é um assunto difícil de ser tocado (que o digam os urologistas). Recente publicação em revista semanal de grande repercussão aborda o tema, porém de forma truncada e pouco consistente, ao questionar o valor do PSA no diagnóstico do câncer de próstata.
Vamos aos fatos: Somente nos EUA foram registrados no último ano 230 mil novos casos de câncer de próstata, dos quais 30 mil vão morrer em conseqüência direta do câncer, existindo 2 milhões de atuais portadores diagnosticados. É inquestionável que a partir do uso do PSA como ferramenta de prevenção, o número de pacientes que foram diagnosticados com doença avançada foi drasticamente reduzido (de 45% para 5%). Nossa verdadeira preocupação não se refere à eficácia do PSA na detecção do tumor, mas em um possível exagero no tratamento de tumores não tão agressivos, e que estariam sendo supervalorizados, com tratamentos que trariam mais prejuízos do que benefícios aos portadores da doença.
Os mais conservadores referem que estudos de autópsia revelam um número expressivo de tumores de próstata que não foram os causadores da morte do paciente, ou seja, poderíamos estar tratando tumores de baixa malignidade com radioterapia ou cirurgias radicais, de conseqüências significativas para a qualidade de vida, e sem qualquer benefício quanto à sobrevida. Vale ressaltar que a maioria destes tumores não é detectável clinicamente, não eleva o PSA, e difìcilmente aparece nas biopsias (revista Jama, 275: 1996).
Quando criticam o índice de positividade para o PSA (limite de 4ng/ml resultando em 33% de confirmação), esquecem que as mamografias positivas têm confirmação de apenas 11% nas biópsias! Hoje já se sabe também que o limite de 2,5ng/ml detecta 48% dos casos positivos. Pacientes que se submetem à prevenção com PSA têm um índice de mortalidade 62% menor que o grupo de controle. A sobrevida de 5 anos que em 1975 (antes do PSA) era de 67%, em 1999 passou a 98%.
O acompanhamento do PSA evolutivo é mais significativo do que um valor isolado, e já se sabe que um aumento anual acima de 0,75 ng/ano, bem como o histórico familiar, são fatores tão relevantes quanto dados absolutos. Um paciente cujo pai teve câncer de próstata aos 60 anos tem sete vezes mais chance de apresentar a doença do que a população geral. Uma variação em torno do tema, já está comprovado que o tratamento da andropausa com reposição de testosterona não aumenta a incidência de câncer de próstata.
É importante também o controle urológico com toque retal, capaz de detectar 50% dos tumores, o que somado ao PSA e à ultrassonografia trans-retal otimiza a eficácia diagnóstica.
Na avaliação de uma intervenção terapêutica devem ser levados em consideração o estagiamento do tumor na biópsia (Gleason 2 a 6, baixo risco), o valor de PSA, e a expectativa de vida do paciente. A inseminação da próstata com sementes de radioterapia, utilizando isótopos de baixa energia, hoje em dia, já se revela tão eficaz quanto a cirurgia radical, e progressivamente vai ganhando a preferência de importantes centros de tratamento.
Como tudo em Medicina, o bom senso deve sempre prevalecer na transposição de estatísticas para a prática diária. Cada paciente, com seu perfil psicológico, expectativa de vida, histórico familiar e características da doença, representa uma singular e única situação clinica, que deverá ser avaliada de forma abrangente para a escolha da melhor alternativa possível.
Sergio Abramoff
Médico

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