quarta-feira, julho 13, 2005

Magu, um jornalista sueco à beira do suicídio

Harald Magnussen, o Magu, o nosso jornalista sueco, anda à beira do suicídio. São muito deprimidos e problemáticos esses suecos, ainda mais quando escrevem para um jornal como o Montbläat e têm um editor que insiste em não querer entender o Brasil e vive demitindo o nosso plumitivo e tachando-o de mentiroso e beberrão.
Magu, como bom viquingue, bebe mesmo, a ponto de dar plantão no boteco Flor do Lavradio, onde instalou a sua ''redação''. Lá, atrás de seu lepitopi, vive dias de particular angústia, pois o seu editor, face à reforma ministerial de Luiz Inácio, deu-lhe 24 horas para desmentir a existência do PMDB.
- Como é possível uma coisa destas! - gritava, possesso, o editor ao telefone - Como é possível que exista um partido que seja, ao mesmo tempo, da oposição e do governo? Isso é simplesmente impossível! Ou você pára de beber ou vai para o olho da rua! Você pensa que nossos leitores são o quê? Idiotas?? Nossa credibilidade irá para o buraco!!! - berrou, antes de desligar com força.
- Desta vez não tem jeito. Como vou convencer o meu editor de que o PMDB existe? - perguntava Magu a Rosalvo, o Despreocupado, enquanto Seu Manoel trazia da cozinha de Otília uns bolinhos de aipim, com recheio de carne seca e catupiri, que desciam muito bem com uma caldereta de chope em estado de quase plasma (algo além do líquido, de tão geladinho).
O prato do dia era uma suculenta rabada com agrião que inundava o boteco com um aroma celestial e que podia ser acompanhada por um angu divino ou um arroz e feijão bem adubado, como só a Otília sabe fazer, coisa de se comer rezando com uma pimentinha esperta...
- Ora, Sueco, não esquenta. O teu problema ainda nem começou. E como é que você vai explicar pro homem que existem aqui cuecas em que cabem US$ 100 mil?
- Essa é tão absurda que é até capaz do homem acreditar, como naquela vez que inventei uma onça em Copacabana e fui promovido. O que não me conformo é que ele vive me esculhambando quando digo a verdade, mas basta eu criar uma cobra de 40 metros na Amazônia, capaz de engolir um ônibus, para ser elogiado e até aumentar a circulação do Mont. Mas nos políticos daqui eles simplesmente não conseguem acreditar.
- E o Delfim? - perguntou Rosalvo.
- O que tem o Delfim?
- Ora, é o mais novo guru do Lula, manja ''o gordo'', o tsar da economia no tempo da ditadura, o ''monsieur dix pour cent''?
- Nem quero pensar. Ainda bem que o PMDB não deixou, senão ele virava ministro. Imagine eu explicar isso. Já tive uma dificuldade imensa para contar a história do ''mensalão''... Ninguém levou a sério e você não imagina a ginástica que foi achar uma palavra em sueco para ''mensalão''. Mais difícil só mesmo o ''sub-teto do Judiciário''. Ou que a Câmara tem 16 mil funcionários. Quando mandei essa, o editor de economia ligou.
- Boa tarde, senhor Magnussen (formalidade sueca), sua matéria me foi encaminhada e achamos que houve um pequeno engano. O senhor descreve uma grande indústria, com milhares de trabalhadores, e não especifica o ramo de atividades da empresa. O que essa tal de Câmara fabrica? Seriam pneus? Essa Câmara é ligada a alguma montadora? À Scânia?
- Quando expliquei que Câmara era a dos Deputados, o homem explodiu e, mais uma vez, fui chamado de mentiroso - disse Magu.
- Mas você deveria ter dito que mentiroso era ele, ele é que exagera e não você - respondeu Rosalvo.
- Não entendi. Como assim? - perguntou o escandinavo.
- E quem é que disse que os 16 mil contratados pela Câmara são trabalhadores?
- Olha o rissole de camarão quentinho - gritou Otília pelo pequeno buraco que liga a sua minúscula cozinha ao boteco.

Fritz Utzeri

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