segunda-feira, julho 18, 2005

O defunto oculto

Arquinovaldo entrou na capela A e foi ao caixão para o seu último adeus ao amigo Antenor. Mas ficou uma arara quando viu o caixão fechado:
- Velório sigiloso, é? Por acaso o defunto está sendo procurado pela polícia?
A parentada foi em cima:
- Calma, fica frio! Tudo tem uma explicação!
Arquinovaldo cruzou os braços e ficou esperando:
- Que seja uma boa desculpa!
Um parente:
- A viúva pediu. É que toda vez que ela vê o rosto do falecido chora feito uma desgraçada!
Arquinovaldo não se convenceu:
- Ah, é? E nós, convidados, como é que ficamos? Eu não vou usar o pensamento porque rezar sem ver o extinto é a mesma coisa que chupar bala sem tirar o papel!
Uma velhinha:
- Eu já ouvi isso, mas era de outra coisa que estavam falando.
Um parente foi grosso com o Arquinovaldo:
- Está chamando o nosso defunto de camisinha?
Lá no canto a viúva abriu o maior berreiro e um gordinho pediu a palavra:
- Não se deve lembrar essas coisas na frente da viúva!
Arquinovaldo estava queimado da vida:
- Eu falo o que bem entender, porque a lei me garante isso! Além do mais, eu era amigo do falecido e posso até mostrar a carteirinha!
Um parente do falecido capitulou:
- Quando o cara é amigo de carteirinha da figura principal do evento, merece ver o rosto daquele que se foi! Vamos abrir essa porcaria pra ele dar uma olhadinha! A viúva que fique olhando pra parede!
Abriram e o Arquinovaldo escancarou:
- Oh, Antenor, por que você fez... ué, quem é esse cara? Alguém aí chama a polícia porque seqüestraram o Antenor e botaram outro no lugar dele!
A velhinha:
- Que outro? Esse aí sempre foi o Fagundes, em carne e osso!
Arquinovaldo ficou tiririca da vida:
- Fagundes? E eu aqui discutindo por causa de um defunto desconhecido?
A parentada não gostou:
- Errar de capela, tudo bem! Mas esculhambar o nosso Fagundes, nem pensar!
E se a polícia não chega ia ter mais um defunto na parada.

Nenhum comentário: