Culpa do colesterol

Deu-se que, às sete da manhã, o gordão, à frente da multidão de vizinhos, foi o primeiro a abrir os trabalhos no bar da esquina:
- Uma cerveja bem gelada, uma da roça pra rebater e um tira-gosto bastante gorduroso e salgado! Aquele pedaço de paio ali, por exemplo!
Um baixinho desandou a dar pulinhos:
- Não pode, não pode!
O português, que queria faturar, ficou tiririca da vida com o baixinho:
- E por causa de que não pode? És o Cesar Maia pra ficar fazendo leis assim sem mais nem menos?
O baixinho, mais calmo:
- É claro que não pode! Se o álcool já é um veneno pro colesterol, imagine comer aquele pedaço de paio, que mais parece um pedaço de pau envernizado!
Um velhinho deu razão ao baixinho:
- O pivete aposentado tem razão, porque o gordão já é muito gordo e não pode se dar ao desfrute de ficar comendo essas coisas!
Uma velhinha concordou:
- Eu também acho! Inclusive, como estou com mais de quinhentos de colesterol, só tomo cinco rabos-de-galo por dia!
O português, furioso:
- Daqui a pouco vocês vão querer que eu só venda pernil daite, paio daite, mocotó daite, enfim, tudo daite!
O gordão, até então calado, resolveu falar:
- E o que é que vocês têm com a minha vida? Eu quero mais é que o colesterol se dane! Sai o paio!
O velhinho se colocou entre o gordão e o balcão:
- Só passando por cima do meu cadáver! Vamos que você coma esse veneno e caia duro no chão! Já pensou na trabalheira que vai dar pra levar a sua pessoa pro hospital?
A velhinha voltou à carga:
- O falecido só comia verduras e legumes. Por isso ele só morreu quando tinha 40 anos! E não foi por causa do colesterol, não, foi anemia mesmo!
O gordão bateu o pé, insistiu e o português serviu o paio, a cerveja e a da roça. Depois de se fartar, o cara se mandou. Mas, ao botar o pé na rua, foi atropelado e acabou no hospital. O baixinho, triunfante:
- Eu não disse que colesterol é fogo?