segunda-feira, setembro 17, 2007

Rio-Petrópolis atingiu seu limite

Após 79 anos de estrada, a primeira rodovia do país mantém as mesmas características de sua construção, no entanto, o número de veículos que trafega pela pista de subida da Rio-Petrópolis cresceu de maneira formidável. De acordo com a Concer, concessionária que administra a rodovia, a estrada está perto do limite de sua capacidade. Muitos motoristas não concordam. Para eles, esse limite já expirou há muito tempo.

A Concer sustenta que a estrada ainda suporta um aumento de 15% do tráfego atual, mas técnicos afirmam que, do ponto de vista geométrico, já está ultrapassada: é excessivamente sinuosa especialmente para veículos mais pesados e a largura é de apenas sete metros.

Os motoristas de carretas e caminhões de grande porte são os mais prejudicados, com a falta de espaço na hora de realizar curvas e ultrapassagens. Entre eles, Valmir de Jesus, com a experiência de 10 anos de estrada, diz que já presenciou inúmeros acidentes na subida da serra. "Os carros pequenos não respeitam os caminhões e aproveitam para ultrapassá-los nas curvas, que são muito fechadas, infelizmente já vi alguns amigos colidirem e capotarem neste trecho", conta.

Roberto Ferreira classifica a rodovia, como uma das mais perigosas e difíceis de dirigir no Brasil. Ele viaja com uma caminhão-cegonha de 22 metros e 40 centímetros. "Quando abro para fazer a curva, os automóveis pequenos aproveitam para ultrapassar. A falta de espaço já me deixou em situações difíceis. Quanto maior o caminhão, mais arriscado é passar por aquele trecho", diz. Roberto acredita que não havia este problema no passado, já que existiam menos carros e os caminhões eram menores e mais leves.

Há oito anos viajando pelas rodovias do Brasil, Claudemir dos Santos passa pela Washington Luiz de duas a três vezes por semana. "O caminhão pesado pode desestabilizar na pista que é apertada, cujas curvas são muito fechadas", afirma. Segundo ele a estrada é uma das mais perigosas do país devido à largura e a falta de prudência dos motoristas, principalmente, alguns carros de passeio, "muitos não têm paciência de aguardar o local propício para cortar os caminhões. Se não prestarmos muita atenção, podemos jogá-los fora da estrada".

Se não houver adiamento, obras em 2014

A Concer garante que a subida da Rio-Petrópolis vai ganhar uma pista nova, mais larga e mais segura. A obra, descrita no contrato de concessão da estrada, já deveria estar pronta e em uso, mas sucessivos e pouco explicados adiamentos concederam à Concer a possibilidade de só iniciar a obra em 2013, com previsão de conclusão para quatro anos depois – será assim se não houver outro adiamento.

A Concer, na verdade, sequer iniciou os estudos para construir a nova estrada. De acordo com o diretor de Engenharia e Operações da companhia, Ricardo Barra, o traçado da nova via ainda não foi definido, mas será projetado após os resultados de um extenso diagnóstico ambiental da região serrana e de uma análise das condições operacionais atuais da pista. A nova via será aproximadamente cinco metros mais larga.

Outra obra prevista no contrato inicial de exploração do pedágio na estrada, a construjção de uma terceira faixa de rolamento num trecho de 12 quilômetros da estrada, estaria emperrada, segundo a Concer, aguardando licença do Ibama. A obra não envolve desmatamento, e deveria ter sido feita há sete anos, mas, como passa dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, depende de licença ambiental.

A Rodovia foi privatizada em 1o de março de 1996, pelo prazo de 25 anos. A Concer, empresa ganhadora da licitação assegura ter investido 760 milhões de dólares na estrada - 300 milhões em obras de recuperação, melhoramentos e ampliação da capacidade de tráfego e o restante na operação da rodovia. Das três praças de pedágio, duas estão localizadas em território fluminense – Duque de Caxias, altura de Xerém, e Petrópolis, depois de Pedro do Rio. A praça de cobrança mineira fica no município de Simão Pereira.


A primeira rodovia do país

Segundo o historiador Joaquim Eloy, a rodovia Washington Luiz foi um grande marco para Petrópolis. "Antes dela, o acesso ao município era feito somente pela serra velha que não possuía bom estado de conservação, ou por trem. Foi de extrema importância a construção de outra estrada, já que o número de turistas e moradores de Petrópolis havia crescido e a estrada velha não suportava mais esse aumento".

De acordo com o historiador, a estrada foi construída dentro da topografia da região, ou seja, circulando a montanha. "Essa estrada lembra o modelo de rodovias da Europa", afirma. "A picareta, a pá, a enxada e as carrocinhas de burros eram os instrumentos de trabalho. Os operários ocupavam improvisados alojamentos no alto da montanha. Foi um trabalho árduo", relata.

Com sete metros de largura de plataforma, a Rio-Petrópolis foi inaugurada pelo presidente Washington Luís, em 25 de agosto de 1928. Ele defendia que "governar é abrir estradas". A construção desta rodovia proporcionou a Petrópolis crescimento econômico. De acordo com Joaquim Eloy, em seguida vieram para o município linhas de ônibus inter-municipais, assim como também foi incentivado o comercio e a construção do hotel Quitandinha. "Os petropolitanos ficaram tão gratos ao presidente que formaram uma comitiva e foram até ele, no Palácio Rio Negro, para agradecer. "Não havia nascido, mas meu pai contou-me que ele esteve lá junto a políticos importantes".

Na ocasião, o país tinha 93.682 automóveis e 38.075 caminhões. O Distrito Federal e o Estado do Rio de Janeiro somavam 13.252 automóveis e 5.452 caminhões. Atualmente segundo Registro Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas – RNTRC, o país possui 1.600.953 automóveis e 862.697 caminhões registrados. Hoje, só em Petrópolis há quase 100 mil veículos emplacados.

A estrada Rio - Petrópolis foi constituída após a imprensa fazer pesadas críticas ao abandono do caminho à Cidade Imperial. O trecho foi o primeiro asfaltado do Brasil e, posteriormente, incorporado pela atual BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Belo Horizonte e Brasília. Na ocasião, as enxurradas de dois verões levaram a areia e o saibro de macadame da serra, enquanto a tabatinga da Baixada estava intransitável. Depois de pavimentada, a rodovia foi considerada, por muito tempo, a melhor da América do Sul.

De Petrópolis a Juiz de Fora, a rodovia BR 040 corta cinco municípios, num percurso de 138 quilômetros, com volume de tráfego de sete mil veículos/dia e menor índice de cargas, em relação à Rio-Bahia, segundo informação do Dnit. Suas obras tiveram início em 1975 e concluídas cinco anos depois, seguindo longo percurso em região montanhosa, plana, ondulada, com trechos de pista simples (7,20 m) e duplas (14,40 m), de largura.

Nenhum comentário: