sábado, agosto 08, 2009

Hortosucesso

Mercado de Itaipava completa 20 anos vendendo hortaliças e produtos da zona rural
Natural da cidade portuguesa do Porto, Luiz Alves da Cunha era uma menino de 12 anos quando chegou ao distrito de Caxambu, em Petrópolis, para trabalhar com a família no cultivo de hortaliças numa área de nove hectares. Hoje, aos 74 anos, ele é o retrato fiel do Hortomercado de Itaipava, que está completando 20 anos. Reunindo nove associações de produtores rurais de Petrópolis, e formado por 36 boxes numa área de 1.600 metros quadrados, o mercado se ampara na tradição para manter-se vivo em tempos de crescimento das grandes redes de supermercados. Para atrair novos clientes, a aposta de Seu Luiz é a mesma da maioria dos colegas vendedores: retornar às raízes e apostar em alimentos com pouco ou quase nenhum agrotóxico.
— Não uso agrotóxico, mas, como não conheço a genética das mudas, não posso garantir aos meus clientes que os alimentos são orgânicos. Usei (agrotóxico) muito tempo, mas vi que não valia a pena. Planta é igual a gente: se acostuma a qualquer coisa. Com substância química não é diferente — compara Seu Luiz.
Com as vendas, ele consegue faturar de R$ 200 a R$ 500 por fim de semana, só no Hortomercado. Também mantém um caminhão no Centro da cidade, para complementar o orçamento.
Nascida em Nova Friburgo, Maria Nilzete dos Santos, de 71 anos, está no mercado desde o primeiro dia. Ela conta que a chegada de supermercados como o Bramil e o ABC impôs a queda nas vendas.
Mas não troca seu emprego por nenhum outro: — Nada se compara ao ambiente daqui.
Empreendimento garante sustento de 50 famílias
Trutas do Rocio, orgânicos do Brejal, flores de Santa Mônica, além de pastéis, doces, bijuterias. Tem de tudo um pouco no Hortomercado, que funciona às sextas, das 9h às 18h; sábados das 8h às 18h; e domingos, das 8h às 13h. De acordo com o coordenador da Divisão de Abastecimento e Produção da Secretaria municipal de Agricultura, Marcos Antônio Santos Neto, o estabelecimento garante o sustento direto de 50 famílias das áreas rurais dos cinco distritos de Petrópolis. Nada menos do que 70% dos produtos vendidos são produzidos ou confeccionados na cidade.

— O mercado tem um viés social muito forte. Os comerciantes pagam apenas uma taxa de pouco mais de R$ 70 por mês que garante os serviços básicos de funcionamento do galpão, como água e luz — ressalta Neto.

O projeto do mercado foi desenvolvido em 1986, mas a inauguração aconteceu três anos depois, com financiamento da Caixa Econômica Federal. Ao longo dos 20 anos (o aniversário será comemorado oficialmente no próximo dia 17), o Hortomercado conquistou fãs como Jaguar, Djavan, Ângela Vieira, Lulu Santos, Ciça Guimarães e Pedro Cardoso.

— O Hortomercado tem uma importância muito grande para a cidade, já virou um ponto turístico. Acredito que o grande diferencial seja a variedade de produtos — afirma o diretor de Agricultura e Abastecimento de Petrópolis, Leonardo Favere. — A cidade conta com o orquidário mais antigo do país, no Retiro.

As opções de hortaliças também são muitas. Quem vai ao Hortomercado encontra um atendimento personalizado, único. Isso cativa.

Em 1971, Ângela Katsumo to deixou a cidade de Marília, no interior de São Paulo, rumo ao Brejal. Desde então, cultiva, com o marido e o auxílio de dez funcionários, as mudas de verduras que vende no mercado. A cada semana são cerca de oito mil comercializadas.

— A alface lisa é a que mais sai. Vendo para produtores de várias regiões do Estado do Rio — comenta.

Os produtos 100% orgânicos também têm lugar cativo na feira. A comerciante e produtora do Brejal Sandra Regina afirma que muitos ainda têm resistência a consumir orgânicos: — Ainda têm medo de encontrar bichos na alface, no brócolis. Mas as pessoas estão se conscientizando de que os orgânicos são bem menos nocivos ao organismo, além de ecologicamente corretos.

As flores são um espetáculo à parte no Hortomercado.

Adelino Martins Pereira as cultiva há 35 anos, no Sítio Santa Mônica. Ele mantém uma colorida banquinha na entrada do estabelecimento.

— Tenho cerca de 80 variedades de flores-do-campo, todas daqui de Petrópolis.

Da plantação à colheita leva cerca de três meses. Alguns tipos eu importo de Holambra, no interior paulista.

Chego a vender 600 molhos por fim de semana — conta Pereira.
Produtos são colhidos um dia antes da venda
A presença das grandes redes de supermercados pode até ter atrapalhado o sucesso do hortomercado, mas nada tira o charme de se comprar produtos sempre fresquinhos e com garantia de qualidade.
Afinal, boa parte dos produtos vem bem de pertinho, da região do Brejal, que concentra quase toda a produção de hortaliças da cidade.
É lá, por exemplo, que há 30 anos foi criada uma rede de agricultores familiares para distribuir a produção do local. Hoje, ela reúne 20 famílias que produzem cerca de nove toneladas de orgânicos por semana. Parte disso, cerca de 200 quilos, abastece o hortomercado, que recebe na sexta de manhã os produtos colhidos na tarde do dia anterior.
Numa altitude que varia dos 800 aos mil metros, o Brejal tem clima excelente para a agricultura e foi escolhido também pelos Katsumoto.

A família mantém ali o sítio onde são produzidas as mudas orgânicas e convencionais de hortaliças, temperos e flores vendidas em um boxe próprio no hortomercado e também num ponto de venda da ItaipavaTeresópolis. Os consumidores são pessoas que gostam de ter em casa uma pequena horta ou jardim e outros produtores da região.

— Meu pai trabalha na lavoura desde criança. Durante muito tempo, ia para o Rio, vender sua produção na Ceasa, o que o obrigava a trabalhar de madrugada. Desde que passamos a vender mudas no hortomercado, nossa qualidade de vida melhorou muito e tudo o que produzimos é vendido aqui mesmo na cidade — explica Rumi Katsumoto, responsável pelas vendas da família.
Fonte: O Globo Serra

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