quarta-feira, agosto 31, 2016

Petrópolis tem 111 áreas irregulares, com 31,6% da população


Quase um terço dos petropolitanos vive em áreas irregulares, que são os assentamentos com problemas fundiários, por causa de invasões ou ocupação irregular. São 94 mil moradores nessas condições. Essas pessoas equivalem a 31,6% da população e estão espalhadas em 111 localidades. Os dados são do estudo “Saneamento em Áreas Irregulares no Brasil”, do Instituto Trata Brasil. Mais de 90% do esgoto dessas áreas é jogado na natureza. Isso ocorre mesmo com Petrópolis tendo ótima posição no Ranking do Saneamento, ficando em 28º lugar no Brasil. A cidade abastece 92% da população com água e 83% com esgoto.

Nas 111 comunidades, 19.842 moradores são atendidos pelo serviço de água. Já outros 6.516 pessoas contam com os dois serviços, água e esgoto, de acordo com o prestador de serviços. Mais de 90% do esgoto gerado (4.522.037 m³) é lançado sem tratamento nos assentamentos irregulares.

Segundo o pesquisador do Instituto Trata Brasil, Alceu Galvão, a irregularidade impede que exista provimento de serviços públicos:

- Essas áreas normalmente têm problemas de abastecimento sanitário e de água. Sempre se esbarra no problema legal, porque no momento em que você instala um serviço e cobra por isso, está legitimando a posse daquela terra.

Mas o instituto, segundo Galvão, não defende que essas áreas simplesmente recebam serviços de forma ilegal. Ao contrário, ele diz que a posição é que as pessoas vivendo em áreas de preservação ambiental e em zonas de risco sejam removidas. Mas a questão fica complexa quando se trata de comunidades fora dessas áreas, quando é preciso um acordo entre as partes.

- O problema é que existem certas áreas fora de zona de risco, fora de áreas de conservação, mas onde a população vive há 20, 30 anos. Não vão ser removidas, obviamente. Nesse caso, é preciso uma solução negociada. E cada caso é um caso diferente.

Nas localidades irregulares de Petrópolis são consumidos 6.164.172 de metros cúbicos (m³) de água por ano, o suficiente para encher 2.466 piscinas olímpicas. A quantidade de esgoto gerado por ano é de 4.931.338 m³, o que daria para encher 1.973 piscinas olímpicas por ano.

Tanto os volumes de água e esgoto são valores estimados, de acordo com a metodologia descrita no estudo do Trata Brasil, considerando que o prestador de serviço não informou os dados.  

O lançamento desses dados em época eleitoral não é coincidência. Segundo Galvão, a ideia é justamente inserir o saneamento na discussão política.

- Nunca se falou tanto em saneamento, com o vírus zika, a crise hídrica que atingiu o Sudeste com tanta força. É importante discutir esse tema numa agenda eleitoral, porque esse é um assunto que todo mundo tem interesse em resolver. Mas não basta as partes quererem, é preciso uma intervenção do poder público.

 

Águas do Imperador

 

A Companhia Águas do Imperador, concessionária do saneamento de Petrópolis, foi procurada pelo Diário e confirmou que não atua em áreas com irregularidades fundiárias. O serviços eventualmente prestados em áreas irregulares são previstos no “Plano Local de Habitação de Interesse Social” elaborado pelos municípios.

Os biodigestores da cidade, que são uma alternativa para tratamento de esgotos em comunidades estão todos em locais regulares. Já os caminhões-pipa da companhia são usados em situações de emergência, em quaisquer áreas:

“Os caminhões-pipa prestam serviços emergenciais a escolas, creches, unidades de saúde e para os nossos clientes. Nas regiões de ocupação irregular, se for preciso, em ocasiões de catástrofes, também. Mas o que ocorre é que nessas regiões, normalmente os caminhões não têm acesso.”

A empresa afirmou que o despejo de poluição nos rios em comunidades irregulares não atrapalha o tratamento da água, “pois as captações são feitas próximo as nascentes dos rios, locais normalmente livres de despejo de esgotos, e a água captada para consumo, obrigatoriamente passa por estações de tratamento”.

A Águas do Imperador também disse que as próximas obras de expansão da rede de saneamento serão a estação de tratamento de água em Araras e as estações de tratamento de esgoto em Nogueira e Itaipava. Também serão expandidas as redes de distribuição de água e de coleta de esgoto em outras áreas da cidade.

 

 “Legislação proibitiva”

 

O estudo apurou que o município tem “legislação proibitiva” para  regularização dos terrenos e que o Ministério Público é atuante acerca  da prestação de serviços de água e esgoto em áreas irregulares.

 Entre os principais motivos que impedem a oferta dos serviços de água e esgoto em Petrópolis estão a dificuldade de regularização fundiária, de pagamento da população, problemas técnicos para ampliação da rede como topografia do terreno.

 

 Faltam ao menos 3 milhões de ligações de esgoto no Brasil

 

Menos da metade da população brasileira está ligada às redes de coleta de esgoto e apenas 40% dos esgotos gerados são tratados, segundo os dados de Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS) – ano base 2014. Apesar da carência do saneamento atingir a todos, é certo que o maior impacto recai sobre a população mais vulnerável e que habita em áreas irregulares onde a infraestrutura sanitária praticamente não existe.

A proximidade com os esgotos faz com que a população dessas áreas normalmente conviva com doenças como diarréias, hepatite A, problemas de pele, dengue, com poluição a céu aberto, acúmulo de lixo, entre outros.

Com relação ao cenário nacional da falta de saneamento básico nessas áreas, o estudo do Trata Brasil estimou a necessidade de se construir mais 3.068.827 novas ligações de água e esgoto nas 89 cidades brasileiras analisadas.

Fonte: Diário de Petrópolis

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