Nova atração turística é casa onde dormiam aviadores franceses, inclusive autor de O Pequeno Príncipe
Eric Andriolo
Petrópolis é uma cidade notável para a história da aviação. A maioria das pessoas sabe que Santos Dumont morou aqui em sua casa Encantada, e algumas sabem que Eduardo Gomes, patrono da Força Aérea, nasceu aqui. Mas poucos sabem que a cidade foi parte da rota dos pilotos da companhia francesa Aéropostale (hoje, Air France), que transportava correio da frança à África e à América Latina, e que alguns dos maiores aviadores franceses dos primórdios das viagens aéreas dormiam aqui regularmente. Entre eles, o famoso Antoine de Saint-Exupéry, o autor do clássico O Pequeno Príncipe e outros livros.
Hoje, essa fazenda é uma propriedade chamada “La Grand Vallée” (o grande vale, em francês), e é a nova atração turística, onde o proprietário atenderá a visitas marcadas para mostrar a história da Aéropostale na cidade.
A participação de Petrópolis não estava prevista pela empresa, quando estabeleceu a conexão entre Tolouse (França) e Santiago do Chile. Esse trajeto, feito com os aviões rudimentares sobressalentes da Primeira Guerra Mundial, era chamado “A Linha”, e compreendia uma jornada épica para os aviadores, que iam pelo ar até a cidade de Dakar, no Senegal (então, uma colônia francesa), acompanhados de tradutores para o caso de pane, quando os aviões caíam em território dos povos nativos, hostis aos colonos europeus. A viagem durava vários dias, e tinha diversos pontos de parada.
De Dakar, os aviões eram embarcados e vinham de navio, para Natal, no Rio Grande do Norte, onde voltavam a voar até Pelotas, no Sul, para depois irem a Montevidéu antes de seguirem sobre a perigosa rota dos Andes rumo a Santiago. No meio do caminho, o Rio de Janeiro era uma parada burocrática, que levava alguns dias. A Aéropostale determinava que os pilotos dormissem em seus alojamentos durante as paradas. Mas um deles, Marcel Reine, já tinha passado algumas noites na “Fazenda São José do Magé e Ribeirão”, em Petrópolis, e comprou a propriedade. Ele então convenceu os superiores a permitirem que os aviadores dormissem na Serra, onde ficavam por uma ou duas noites cada vez que vinham ao Brasil.
Assim, Petrópolis virou recanto para Reine e seus convidados, incluindo o colega Saint-Exupéry (que em outra época chegou a ser selecionado para fazer as relações públicas da empresa com as tribos africanas, presumivelmente por conta de sua personalidade) e alguns intelectuais brasileiros, como Alceu Amoroso Lima e Augusto Frederico Schmidt.
Em 1938, Reine foi transferido para outra região, e a fazenda, com o tempo, foi loteada e vendida. A sede foi adquirida pela família do atual proprietário, José Augusto C. Wanderley, que hoje resolveu abrir a casa para visitações.
José Augusto é publicitário, administrador e jornalista aposentado, e é um adepto colecionador, e está decidido a transformar a casa em um recanto de memórias da Aéropostale e de Saint-Exupéry, com livros, objetos temáticos, miniaturas e outros materiais. A rua onde está localizado o sítio tem uma placa e uma fonte decorados com imagens do Pequeno Príncipe.
- Quero mostrar para as crianças a importância de Petrópolis para a aviação – disse o colecionador, que diz também ver muito valor na visão de Saint-Exupéry sobre a vida adulta – Mostrar também um lado menos adulto, que é muito uma coisa que ele passava para seu livro. Que a criança olhe com uma admiração para as coisas, sem pensar só em valor.
O empreendimento é recente. Faz um mês, Augusto e sua esposa, Elisa, se mudaram do Leblon para a propriedade, que fica em Itaipava, no Vale do Ribeirão Grande, e já decoraram o local. Ele já fez três visitas, todas com escolas e, agora com apoio até da prefeitura, pretende trabalhar com visitações
- Esse modelo é comum na Europa, onde alguns proprietários tem castelos antigos e difíceis de manter. Eles complementam a renda fazendo visitas, almoços com turistas, recontando a história daquele lugar.
Mas a ideia ganhou força mesmo depois que José Antonio foi procurado pela Asspciação Memória da Aeropostale ao Brasil (Amab), que queria fazer uma excursão (a “Raide Latécoère 2014) pelos locais onde os aviadores passaram, e visitaram a propriedade. Os visitantes também visitaram a Casa de Santos Dumont nessa ocasião. Hoje, José Augusto é o diretor da Amab no Rio de janeiro.
Salão de Jogos
Em O Pequeno Príncipe, Exupéry chama atenção para as virtudes do pensamento simples das crianças. Faz sentido que José Augusto Wanderley dedique tanto de sua nova decoração à obra, já que ele mesmo não abandonou algumas paixões da infância. Fã de automobilismo, ele mantém uma grande coleção de carrinhos de brinquedo, incluindo miniaturas de modelos reais e
famosos, carros de controle remoto e peças de coleção como pedaços de carros de corrida (como pneus e engrenagens) e outros itens de valor sentimental.
Mesmo com a grande coleção, não basta ter os modelos automobilísticos. Ele também contrata um especialista para fazer manutenção das partes móveis e dos mecanismos (analógicos e eletrônicos) dos brinquedos, de modo que todos funcionam como se fossem recentes.
Na visita, ele foi capaz de falar de cada miniatura, se o carro correspondente tinha algo de notável, sendo o primeiro a possuir alguma inovação mecânica, ou a época de fabricação e as pessoas famosas que o dirigiram.
A coleção ocupa uma pequena casa nos fundos da propriedade, camada “La Petite Galerie de Jouets”, a pequena galeria de brinquedos, que não vai ficar aberta ao público visitante.
- tenho um pouco de receio com as prateleiras – justificou o colecionador. Os brinquedos estão em prateleiras estreitas, e ele os manuseia com cuidado.
Serviço
Quem quiser agendar visita deve ligar para 2222-1388 ou (21) 993-543-179. A casa fica na Rua das Acácias em Itaipava.
Fonte: Diário de Petrópolis
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