domingo, agosto 17, 2014

Conheça Ritalina a "droga dos concurseiros"

Concurseiro, vestibulando e estudante em épocas de provas estão fazendo uso de uma prática que pode colocar a saúde em risco: utilizando medicamentos para aumentar a eficiência nos estudos. Entre os mais famosos, a Ritalina, remédio utilizado exclusivamente para pessoas diagnosticada com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), tem sumido das farmácias da cidade e quem realmente precisa da droga tem dificuldades em encontrar o remédio. Esta semana, a equipe da Tribuna foi a oito farmácias de diferentes redes, delas, apenas duas contavam com a Ritalina em estoque.
Conhecida como “pílula da inteligência” ou “droga dos concurseiros”, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo apontou que, ao contrário do que se imagina, a Ritalina não beneficia a atenção, a memória e as funções executivas (capacidade de planejar e executar tarefas) em pessoas sem o transtorno. Ou seja, a melhoria é apenas ilusória. A intenção do estudo foi avaliar se o consumo do medicamente, cujo princípio ativo é o cloridrato de metilfenidato, realmente trazia vantagens cognitivas. 
Para isto, 36 jovens saudáveis entre 18 e 30 anos foram selecionados e divididos em quatro grupos: um deles tomou placebo (fármaco de efeito inerte que apresenta efeitos terapêuticos devido aos efeitos psicológicos do paciente de que está sendo tratado) e os outros três receberam uma única dose de 10 mg, 20 mg, e 40 mg da medicação. Após esse processo, eles foram submetidos a uma série de testes que avaliaram atenção, memória operacional e de longo prazo e funções executivas. O resultado foi o mesmo para todos os grupos, que tiveram desempenhos semelhantes.
“O uso não alterou a função cognitiva. A única diferença que observamos foi que os que tomaram a dose maior, de 40 mg, relataram uma sensação subjetiva de bem-estar maior em comparação aos demais”, explicou a psicóloga Silmara Batistela, autora do estudo.
Outra pesquisa, realizada ano passado, desta vez pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), também aponta um dado preocupante: o uso do princípio ativo da Ritalina, o metilfenidato, cresceu 775% no país no período de 10 anos. Enquanto em 2003 eram consumidos 94 kg da droga, uma década depois foram 875 kg. A importação e a produção também cresceu 373% no país, passando de 122 kg em 2003 para 578 kg.
Compra difícil


Quem realmente precisa da droga tem tido dificuldade em encontrar o remédio para vender das farmácias da cidade. É indicado para o tratamento do TDAH, ou seja, para pessoas que sofrem de desatenção, a dificuldade de manter o foco e concentração nas atividades, e a hiperatividade, manifestada pela inquietude e impaciência.
Uma estudante de direito, de 24 anos, que pediu para não ser identificada, conta que foi diagnosticada com TDAH na infância e faz o tratamento com o auxílio de remédios. Ela conta que, com o passar do tempo, foi utilizando cada vez menos a substância e, hoje em dia, faz uso da droga em época de provas na faculdade.
“O problema é na hora da compra. Como eu realmente tenho o TDAH, vou com a receita à farmácia e muitas vezes não encontro nada. Preciso em ir a duas, três, às vezes até mais para achar o medicamento. Uma vez, um farmacêutico até brincou perguntando se eu realmente precisava do remédio e quando respondi que sim, ele explicou que naquela época do ano – perto do período das provas – era comum a compra da Ritalina crescer”, contou.
O psiquiatra, professor das Faculdade de Medicina de Petrópolis e da Universidade Católica de Petrópolis, Eduardo Birman, explica que, para quem não sofre da hiperatividade, apenas do déficit de atenção, em período de férias, por exemplo, quando não há necessidade de focar nos estudos, o uso do remédio pode ser suspenso. 

Diagnostico só acontece na infância
Segundo Eduardo, o TDAH é diagnosticado apenas na infância. Ele destaca que há um erro comum entre os adultos, principalmente na fase em que estão na faculdade, acreditar que estão com déficit de atenção e por isso optar pelo uso do metilfenidato.


“Isso não existe. O que pode acontecer é o adulto ser diagnosticado tardiamente, mas, para isso, é necessário que o profissional que o estiver fazendo, psicólogo ou psiquiatra, faça um levantamento de todo o histórico escolar do paciente. Normalmente, quem ajuda nesse processo são os professores, mas é importante destacar que nem toda criança agitada é hiperativa e nem todos aqueles que tem dificuldades em aprender, têm déficit de atenção”, explicou Eduardo.

Uso indevido
Um estudante de engenharia, de 23 anos, que também preferiu não se identificar, explica como conseguiu comprar a Ritalina. “Primeiro fiquei sabendo que nos Estados Unidos e até mesmo na Europa, os universitários estavam usando esse remédio para aumentar a concentração. Como estava em época de provas e precisava passar as noites estudando, descobri que um rapaz da faculdade tinha o remédio e perguntei se ele revendia para mim, alegando que eu estava sem a receita e não teria como ir ao médico para buscar. Ele me vendeu uma caixa e comecei a utilizar a substância”, contou.
Ele explica que a maior vantagem do remédio é tirar o sono. “Não fiquei mais inteligente por isso, mas ganhei na dedicação e na concentração”, relata. Segundo o estudante, outros alunos também utilizam a droga na faculdade. “Na época de provas a gente vê muita gente buscando a Ritalina como alternativa. Tem gente que compra pela internet, mas eu não acho muito seguro, prefiro pedir para alguém comprar”, confidenciou o rapaz.
A compra da Ritalina só é possível ser feita com uma receita especial, na qual o profissional deve ter cadastro na Secretaria do Estado de Saúde. São dois tipos de prescrição, a Ritalina de 10 mg, que custa por volta de R$ 18,00 e tem efeito de curto prazo, e a Ritalina LA, que tem efeito prolongada. Estas, existem a 10 mg, que custa cerca de R$ 65,00; a de 20 mg que custa por volta de R$ 180,00; a de 30 mg, R$ 185,00; e a de 40 mg, que custa por volta de R$ 180,00.


Efeito colateral
Eduardo Birman, explica os perigos que o consumo do medicamento pode causar. “Pode afetar o coração e levar a um quadro de arritmia cardíaca e dores de cabeça, por exemplo, entre outros efeitos colaterais. A Ritalina é uma anfetamina e apresenta também um potencial de abuso, por isso é controlada e só pode ser comprada com receituário especial”, destacou
Por ser um estimulante, o uso da droga pode causar dependência naqueles que fazem o uso indiscriminadamente, mas não tem o mesmo efeito para aqueles que sofrem de TDAH “Não há qualquer estudo que comprove que a utilização da substância pode ajudar no desempenho do estudante. O que acontece é que, por ficar mais tempo estudando, pode conseguir aprender um pouco mais. Na prática, a utilização da droga causa mais malefício à saúde, do que vantagens”, finalizou o especialista. 
Fonte:Tribuna de Petrópolis 

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