sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Audiência pública discute projeto de R$ 500 milhões no bairro de Secretário, em Pedro do Rio

A ocupação desordenada de Secretário foi o principal assunto debatido por moradores, veranistas, empresários e representantes do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em audiência pública realizada na quarta-feira à noite no bairro. Mais de 500 pessoas discutiram o projeto de R$ 500 milhões que pretende transformar a área – misto de veraneio e produção rural – no maior complexo imobiliário, esportivo e hoteleiro da cidade ocupando 11 milhões de metros quadrados, o que equivale a junção de seis fazendas em Secretário. A audiência convocada pelo Inea, faz parte do processo de licenciamento prévio que deve ser liberado pelo órgão. A previsão é que as obras comecem ainda este ano com a construção de um Hotel 5 estrelas, com 140 quartos; um campo de golfe, com 18 buracos e condomínios residenciais. O projeto é dividido em etapas e tem previsão para ficar pronto daqui há 30 anos. 
A reunião foi dividida em duas fases. A primeira consistiu na apresentação do projeto feita pelo vice-presidente da Plarcon Engenharia, empresa responsável pelo empreendimento, Cláudio Neves e apresentação do Relatório de Impacto Ambiental (Rima). Após um intervalo de, aproximadamente, 20 minutos, ela foi retomada com questionamentos feitos pelo público. Todas as dúvidas foram respondidas pelo empreendedor. A audiência teve como objetivo reunir sugestões, críticas e comentários da população. Ela foi presidida por Maurício Couto César Júnior, indicado pela Comissão Estadual de Controle Ambiental, vinculada à Secretaria Estadual do Ambiente e secretariada por Letícia Moraes do Rego com suplência de Paulo Roberto Bento Carneiro. Também estiveram presentes o secretário de Segurança Pública Calixto Barbosa, Flávio Bandeira representando a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e os vereadores Osvaldo do Vale e Ronaldo Ramos. 
Durante a audiência foram discutidas as questões relacionadas  a possibilidade de existir um crescimento desordenado da população, a infraestrutura, o aumento do tráfego na região, abastecimento de água e luz, crescimento da prostituição e da criminalidade, transporte público, entre outros. Uma das preocupações dos moradores é com o número de empregados que devem ser deslocados para o local durante a construção, que gira em torno de 3 mil. Chegaram a citar a construção de Angra 1 e a formação de uma favela próxima após a conclusão do projeto, justamente por causa da grande quantidade de mão de obra que foi empregada no local. Cláudio explicou que haverá um canteiro de obra dentro do espaço correspondente ao complexo e que não será necessário que eles estabeleçam moradias na região. Além disso, ele enfatizou diversas vezes que a construção será realizada em etapas e, portanto, o impacto será menor. Ele também reforçou a ideia de que o projeto ainda está no início. “Estamos na fase de determinar a área de ocupação. O projeto será desenhado de fato para a fase da Licença de Instalação (LI)”, disse. Para tranquilizar os moradores, Cláudio citou como exemplo e opção a possibilidade de arrendar a terra, o que, segundo ele, contribuiria de fato para o crescimento desordenado da população naquela área. Ele acrescentou que existem regras a serem cumpridas, como a permissão para construir prédios com até 3 andares e ocupação de menos de 10% do espaço para moradia.
Questionado se haverá dinheiro público na construção do empreendimento, o vice-presidente da Plarcon, garantiu que todo o recurso será captado por meio de investidores e não do governo. “Este é um projeto que vai gerar muito emprego na região e vai influenciar diretamente o aumento da infraestrutura que, atualmente, é precária”, destacou. 
Sobre a questão ambiental, foi afirmado que houve um levantamento de cada árvore em campo, assim como foi avaliada a sazonalidade e abundância  da flora e da fauna por meio de trilhas dentro das próprias fazendas. O complexo consiste na junção das fazendas: Aroeira (251,43 hectares), Água Santa (82,92 hectares), São Carlos (101,99 hectares),  São José (250,62 hectares), Maquiné (224,09 hectares) e Secretário (215,38 hectares). 
O secretário de segurança se manifestou positivamente a implantação do complexo. “O empreendimento vai criar prosperidade para o bairro, gerando emprego por meio da expansão imobiliária. A segurança e os outros setores caminham junto com o desenvolvimento. A polícia vai se fazer presente assim como o poder público”, garantiu. 


População criou agenda de compromissos sociais, ambientais e econômicos para discutir a implantação do projeto
O engenheiro ambiental Guilherme Menegassi, de 37 anos, mora no Rio e passa os fins de semana em Secretário. Ele achou a apresentação do empreendimento frustrante. “Estão querendo transformar o bairro. Tirar a característica rural que ele tem e criar uma área urbana”, criticou. Ele organizou uma agenda de compromissos sociais, ambientais e econômicos para a instalação do complexo. “Tem que existir uma sincronia no diálogo entre o poder público, a sociedade civil e a empreendedora”, destacou. A agenda de compromissos pretende aprovar o conjunto de aspectos sociais, ambientais e econômicos que serão alterados a partir da implantação deste empreendimento. 
Já a empresária Raquel Simas, de 53 anos, vive desde que nasceu na região e, a princípio, se manifestou contrária a implantação do projeto. “Corremos o risco de que aconteça em Secretário o mesmo que em Itaipava quando resolveram construir a Granja Brasil. Prometeram muitas coisas e não aconteceu. O que vemos lá é um trânsito cada vez mais caótico e aumento da criminalidade. Nós que somos de Secretário queremos continuar andando a cavalo, passeando na estrada de chão”, declarou. A moradora lembrou a situação que a comunidade vem passando nos últimos meses com relação ao grande número de banhistas que tem frequentado o Poço da Rocinha. “Imagina com um mega projeto desses como vai ficar a nossa vida?”, indagou. 
Simone de Jesus é moradora da região há 5 anos. Para ela, precisa existir uma fiscalização da prefeitura para a implantação do complexo hoteleiro. “Se houver esse controle e o projeto for, realmente, uma coisa boa para o bairro, eu concordo com a construção. Mas, a questão de investimento é fundamental, principalmente em cursos de capacitação para que a mão de obra utilizada no empreendimento seja local”, disse ela, que é fundadora do projeto social João de Barro. 
Fonte:Tribuna de Petrópolis 
O administrador, especialista em gestão ambiental Geraldo Carvalho, de 59 anos, sentiu falta na reunião do secretário de Planejamento do município, do Ministério Público Federal, de representantes da Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis (FCTP) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). “Um projeto deste tamanho e os órgãos interessados não aparecem”, lamentou. Para ele, todos os questionamentos feitos durante a audiência precisam ser tratados. “A região é totalmente abandonada”, finalizou. 

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