segunda-feira, janeiro 14, 2013

Dois anos depois, nada mudou no Cuiabá

Dois anos após a tragédia que atingiu a região do Vale do Cuiabá, em Itaipava, o cenário é de total abandono. As casas em ruínas e o mato revelam o descaso e a total inércia do poder público com as vítimas. Até hoje, 24 meses depois, nenhuma casa foi erguida, as pontes levadas pela enxurrada não foram reconstruídas, as obras de contenção não foram realizadas e o posto de saúde da região continua funcionando em um contêiner. A enxurrada de lama que atingiu a região, na madrugada do dia 12 de janeiro de 2011, destruiu tudo o que encontrou pela frente. Casas, prédios públicos e empresas foram invadidas e levadas pela correnteza. Ao todo, 73 pessoas morreram (boa parte por afogamento) e 15 pessoas ainda estão desaparecidas, segundo dados do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A força das águas dos rios Santo Antônio e Carvão, que transbordaram mais de cinco metros acima do nível da rua, levaram vidas e sonhos. Para quem sobreviveu a tragédia restaram tristes lembranças e a esperança de dias melhores. “É uma ferida que nunca vai cicatrizar”, disse a caseira Ana Ioras, de 48 anos. Ela, o marido e o filho, de 20 anos, Dois anos depois, nada mudou no Cuiabá moradores da localidade chamada de Ponto Final, são os únicos que ainda residem na área devastada pelo temporal. Apesar das tristes lembranças, a família decidiu permanecer no local. “É triste olhar pelas janelas e não ver mais a vida que tinha aqui antes. Hoje, ao invés de ver as crianças correndo pela rua eu vejo destroços. Nos chamam de corajosos, mas acredito que não é a nossa hora de ir embora”, contou Ana. No local, segundoAntônio Carlos Santana, marido de Ana, haviam mais de 50 casas. Hoje, restam menos de 10. “A chuva levou quase tudo e as outras estão sendo demolidas, aos poucos, pelo Inea”, contou o morador, acrescentando que 26 pessoas perderam a vida no Ponto Final do Vale do Cuiabá – dessas, seis ainda não tiveram os corpos encontrados. “Conhecia cada família que morava aqui. Olhar para esse terreno vazio me faz lembrar cada momento vivido naquele dia”, disse Antônio. A casa da família, localizada no Sítio Coqueiros, resistiu a enxurrada e não foi interditada pela Defesa Civil. O sítio serviu de abrigo para 35 pessoas, que passaram três dias a espera de socorro. “Saímos de casa com a água quase na cintura. Estava tudo escuro e o barulho da chuva era assustador. Gritei chamando os vizinhos, para que eles buscassem abrigo aqui no sítio. Foi desesperador. A força da água derrubou o nosso muro e veio carregando tudo”, contou Ana. A família passou a madrugada no meio do mato. Na manhã seguinte, eles voltaram para o sítio, onde ficaram na casa principal a espera de socorro. “As pessoas começaram a chegar. Algumas machucadas. Ficamos aguardando o salvamento, que só aconteceu três dias depois”, lembrou Ana. No sítio, dois corpos também foram encontrados. Para o casal, dois anos após a tragédia, o sentimento é de descaso e revolta com a falta de apoio do poder público. “Eu não tive perdas materiais, mas vivi algo horrível. Vi amigos morrendo e outros perdendo tudo o que tinham. Vi o lugar em que moro ser devastado pela chuva e abandonado pelas autoridades”, lamentou Antônio. Fonte: Tribuna de Petrópolis

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