sexta-feira, janeiro 22, 2010

Viagem perigosa pela serra

Rio-Petrópolis tem 32 pontos com deslizamentos em apenas nove quilômetros

Waleska Borges

A menos de um mês do carnaval, o sinal de alerta para quem precisa subir a serra já está ligado. Motoristas que trafegam pelo trecho Rio-Petrópolis da BR-040 (Rio-Juiz de Fora) passam por pelo menos 32 pontos de encostas com grandes deslizamentos. O perigo foi constatado ontem por repórteres do GLOBO entre os quilômetros 100 e 91. Nesse trecho, no sentido Petrópolis, apenas do início da serra ao quilômetro 100, são 13 marcas de desmoronamentos. Às margens da via, por onde em média passam 18 mil veículos por dia, além de buracos nas encostas, há trechos onde árvores ameaçam cair.

Uma das preocupações é com um enorme deslizamento que ocorreu há cerca de um mês, embaixo de uma ponte no quilômetro 98, arrastando terra e vegetação.

— Toda vez que chove, temos problemas. É muito perigoso para os motoristas. Sempre tiro os galhos que ficam na pista. Também temos medo das árvores caírem com uma ventania. Algumas já estão até tortas. Mas não somos atendidos pela Concer (concessionária da estrada) — reclama o carpinteiro Elson Monteiro, de 58 anos, que mora num sítio na estrada.

A caixa Gabriele Fernanda da Silva Machado, de 23 anos, também diz ter medo: — Há muitas casas na serra.

Quando chove muito, procuro nem sair de casa. O pedágio é caro e não vemos obras nessas encostas.

Para moradores, o risco é ainda maior de noite, porque não há luz.

Eles também reclamam da falta de poda das árvores.

— Além de desmatar, a ocupação desordenada leva peso, lixo e esgoto para a encosta. No período chuvoso, que vai até março ou abril, essa situação se agrava. A chuva fina e de maior duração encharca o solo — avaliou o engenheiro e assessor de Meio Ambiente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ), Abacto Otoni
Especialista sugere contenção de encosta
Segundo o especialista, o fim das ocupações irregulares, a preservação da mata, a construção de muros de proteção da encosta e serviços de drenagem são medidas emergenciais importantes para evitar riscos: — As políticas públicas para impedir essas ocupações desordenadas são insuficientes.

A Concer informou, por nota, que monitora permanentemente trechos da rodovia onde há encostas. A empresa lembra que a região, assim como outros pontos do estado, vem sendo atingida por fortes temporais, “ficando difícil prever as consequências de fenômenos naturais ou apontar onde estão os pontos mais vulneráveis da rodovia, já que chuvas fortes e concentradas em um determinado local podem desestabilizar áreas com boa cobertura vegetal e consideradas seguras”.

A concessionária admitiu que fatores como desmatamentos e ocupações irregulares contribuem para os problemas. De acordo com a empresa, com base no contrato de concessão firmado com a Agência Nacional de Transportes Terrestres, a faixa de domínio da União passou a ser de responsabilidade da concessionária. Por esse motivo, a empresa diz que cadastrou moradores e orientou as famílias sobre riscos como enchentes, atropelamentos e choques elétricos.

A Concer informou ainda que ofereceu aos moradores das áreas ocupadas, em caso de mudança, um caminhão para remover seus bens. Segundo a concessionária, com isso, várias famílias deixaram trechos invadidos.

No caso dos invasores que permaneceram, a empresa diz que entrou na Justiça Federal com uma ação para demolir os imóveis erguidos irregularmente. Sobre obras na estrada, a Concer informou que, recentemente, foi concluída a construção de uma cortina atirantada (sistema de contenção) no quilômetro 54, em Petrópolis. Também foi terminada uma obra de contenção no quilômetro 90, na subida da serra.
Fonte: O Globo

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