segunda-feira, janeiro 11, 2010

Dois anos da tragédia que matou 9 pessoas em Itaipava


Quase dois anos depois da tragédia que deixou nove mortos e 12 pessoas feridas, localidades atingidas na noite de 3 de fevereiro de 2008 por uma tromba d’água em Itaipava, incluindo Estrada Petrópolis x Teresópolis, Madame Machado e Estrada do Gentio, ainda tentam se reerguer. Casas ameaçadas permanecem abandonadas e famílias sobrevivem do aluguel social. O rastro da destruição deixado pela chuva ainda é visível. Medidas sociais, entretanto, foram tomadas tanto pelo Governo Federal, quando pelo estadual e municipal. Na época, o governador Sérgio Cabral, em visita a Itaipava, culpou pela tragédia a irresponsabilidade política das autoridades locais pela ocupação irregular das encostas e o assoreamento do Rio Santo Antônio. O então prefeito Rubens Bomtempo criticou a ocupação desordenada ao longo das últimas décadas às margens do rio.
As vítimas da tragédia foram Douglas Castro da Silva, 5, e a avó dele, Maria Isabel da Conceição Silva, 72, que estavam em uma casa atingida por deslizamentos de terra, localizada no número 659 da estrada do Gentio. Neste ponto, foi construído um muro de contenção e feitos a drenagem do terreno e o reflorestamento da área. Na época, um prédio vizinho foi interditado. Ao contrário do que acontece com frequência no primeiro distrito, o imóvel continua desocupado e está na lista de demolições que devem ser feitas ainda neste ano. Na mesma rua, morreu Fatima Maria Nicodemos, 43, também soterrada por uma barreira que atingiu parcialmente a casa onde ela estava.
Em Madame Machado, na Rua José Gama, nove pessoas, entre elas três crianças, morreram por conta do deslizamento de uma encosta. Neste ponto, obras também foram realizadas e casas interditadas. Segundo a dona de casa Camila Pires, de 25 anos, estas residências permanecem vazias. “Na casa de meu tio, por exemplo, só tiramos o necessário. O imóvel está abandonado e a família até hoje é atendida com o aluguel social. Na ocasião, também ganharam uma lavadora de roupas”, conta Camila. O caso da mãe de Camila, entretanto, é diferente. Moradora próximo às margens do Rio Santo Antônio – que, na época, transbordou deixando residências completamente submersas –, na Estrada Petrópolis e Teresópolis, ela perdeu tudo e hoje vive de favor na casa da filha, que fica no mesmo terreno, mas na parte de trás. “Minha mãe recebeu apenas a ajuda em dinheiro. As outras promessas como móveis e até acompanhamento psicológico foram esquecidas”, acrescenta a dona de casa.
Os cheques no valor de R$ 3,5 mil, referentes ao Programa Auxílio-Emergência às famílias do distrito de Itaipava atingidas pelo temporal, começaram a ser entregues no início de março de 2008. De acordo com declarações do prefeito Rubens Bomtempo, na época, a finalidade era reduzir os danos materiais provocados pelas chuvas. O dinheiro poderia ser usado para comprar eletrodomésticos, móveis e outros utensílios, além de realizar pequenas reformas.
Segundo Camila, mesmo o Rio Santo Antônio tendo passado por uma dragagem, feita na época pela extinta Serla, ele não deixou de ser uma grande preocupação para os moradores porque, na opinião da dona de casa, o órgão não fez um serviço bem feito. “Foram dragando o rio e jogando a terra nas margens. Alargaram o leito do rio mas acho que ainda estamos expostos aos riscos. Quando chove, não conseguimos dormir de tanta preocupação”, complementa.
Na época, a Serla trabalhou no desassoreamento ao longo de seis quilômetros do Rio Santo Antônio, com o objetivo de evitar novos transbordamentos. As obras foram orçadas em torno de R$ 1 milhão e 700 mil e apenas uma serralheria e um campo de futebol, ambos construídos à margem do rio, seriam removidos. De acordo com moradores, outra intervenção ocorreu na Estrada das Arcas, onde o curso do Rio Santo Antônio, no trecho em que desemboca no Piabanha, teve que ser desviado por conta do contra-fluxo, porque o Santo Antônio chegava ao Piabanha no sentido contrário do seu curso, o que provocava as inundações.
O vizinho Juarez Gomes, de 59 anos, no entanto, não tem a mesma opinião. Ele acredita que a ajuda de R$ 3,5 mil dada pelo governo foi uma das melhores. “Já tivemos as casas alagadas inúmeras vezes. Tantas que perdi as contas, e nunca ninguém fez nada. Em 2008, perdi tudo pois minha casa ficou quase dois metros submersa. Lembro que os bombeiros passavam por aqui de bote”, lembra.
Os moradores da Estrada do Gentio, também prejudicados pelo transbordamento do Rio Santo Antônio, têm a mesma opinião e contam que não houve necessidade das casas permanecerem interditadas. Na altura do número 550, Antônio Pontes de Arruda, que mora no local há 38 anos, conta que, de aproximadamente 20 construídas na servidão onde mora, seis casas foram alagadas. “Todos ganharam a ajuda em dinheiro e mais assistência social como cesta básica, por exemplo”, conta.
Mesmo tendo perdido todos os móveis, o carro e a moto, Adilson Souza Paiva, de 41 anos, não viu necessidade de mudar de casa. “O que aconteceu naquela época, nunca havia ocorrido. Foi a primeira vez que o Rio Santo Antônio encheu tanto. Agora, com as obras realizadas após a tragédia, acredito que não teremos problemas como aqueles. Também não acredito numa nova tromba d’água”.
Fonte: Tribuna de Petrópolis

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